A Ascensão do Senhor
Celebramos hoje a Solenidade da Ascensão do Senhor e percebemos que também nós estamos a caminho do céu. Contudo, antes de adentrarmos na eternidade, o Senhor nos confiou um projeto a realizar nesta vida. E se quisermos cumprir bem esta missão, precisamos saber claramente o que Deus espera de nós.
Jesus Cristo nos ensinou não simplesmente apenas o que devemos fazer nesta vida para alcançar o céu, mas como fazê-lo. A preparação daquele que crê, para realizar uma ação apostólica na sociedade, é essencial. A simples boa vontade dos que estão dispostos a se engajar na ação da Igreja no mundo não é suficiente.
Como esperar uma Igreja eficaz no anúncio do Evangelho se os cristãos dão tudo já por certo e não se preparam para evangelizar, em um mundo no qual a qualificação profissional é tão exaltada, com preparação especial para cada tipo de trabalho?
Deus não quer dispensar o que já temos e o que já podemos, mas assim como aceitou a oferta de alguns poucos pães e peixes, para realizar o milagre da multiplicação do alimento, dando de comer a milhares de pessoas, assim também espera de nossa parte a que lhe ofereçamos o pouco que temos e podemos. Tanto durante sua vida pública como neste exato momento que hoje celebramos, de sua despedida, os apóstolos prestaram muita atenção ao que Jesus ensinava. Hoje, somos nós os guardiões da fé da ressurreição. “Foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois de sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus”. (Atos 1,1-11), nos diz a 1a Leitura da Missa de hoje. A ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa esperança. Assim, precisamos estar preparados para anunciar esta verdade fundamental e para resistir firmemente ao conflito com outras mentalidades e à tentação de nos deixar nivelar e correr atrás da mediocridade de um anúncio de um cristianismo não real, que se resume a mensagens de autoajuda, de palavras bonitas, mas que de fato não leva a um comprometimento da própria vida, fundamentado na verdade da Ressurreição do Senhor.
Como podemos nós, através da nossa esperança, ser instrumentos de um anúncio perpétuo do amor de Cristo para com toda a humanidade? Como levar esta mensagem de salvação para todos os nossos irmãos?
Celebremos com alegria a Ascensão do Senhor porque este acontecimento narrado pelo Evangelho, não se refere somente a Jesus, mas a cada um de nós.
O Senhor foi reencontrar o Pai, em sua Ascensão gloriosa, para coroar sua obra de Redenção.
Nós o encontraremos assim que as provações de amor na Terra terminarem, no final de nossa vida.
Como Ele nos ensinou em seu sermão da Última Ceia, Ele foi à nossa frente para preparar um lugar para nós. Vivamos em gratidão, enquanto meditamos em tudo o que Ele fez por nós.
Hoje, e em todos os tempos, após a Ascensão do Senhor, temos um plano a cumprir.
Dois anjos apareceram na forma de homens vestidos de branco para libertar os apóstolos das ilusões que ainda abrigavam em suas mentes. Eles certamente esperavam que Jesus voltasse alguns momentos depois, vestido de glória, para inaugurar triunfantemente o Reino de Deus. Eles ficariam felizes em assistir a este grande evento. O anjo lembrou-lhes que era hora de se dedicarem à missão que Jesus lhes havia confiado, e não a ficarem olhando para o céu, inermes.
Assim, hoje é hora de Jesus se mover no mundo por meio de nós, falar com nossas vozes e fazer milagres de amor com a nossa generosidade.
Jesus declarou que seríamos suas testemunhas em toda a terra até o fim do mundo. Testemunha é a tradução latina da palavra grega “mártir”. Tal testemunho de Cristo será frequentemente confirmado com o sangue de seus amigos. Tantos morreram e deram seu sangue e suas vidas em testemunho do Evangelho, assim como nossos mártires, os Beatos Manuel e Adílio. Quando nos anunciou que seríamos suas testemunhas em todo o mundo, Jesus nos lançou um desafio que tantas vezes ouvimos da boca das pessoas: “Mostra-nos pelas tuas obras que Jesus Cristo vive e nos ama!” Esta é a nossa missão hoje. Esta é a principal tarefa do evangelizador: o testemunho da fé encarnada na própria vida.
Queridos irmãos, hoje iniciamos os preparativos para o centenário do martírio de nossos Patronos Diocesanos, os Beatos Manuel e Adílio, ocorrido no dia 21 de maio de 1924.
Preparemo-nos com todo o empenho e dedicação para esta data, comprometendo-nos em seguir os passos de generosidade e de entrega destes nossos “mártires da fé”.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen