A Imaculada, nova Eva
Dia 08 de dezembro celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição. Em Maria se cumpre a promessa que o Senhor fez a Abraão, “Pai da Fé”, de que de sua descendência nasceria a fonte de bênçãos para toda a humanidade. Abraão acreditou na fecundidade, apesar da esterilidade de sua esposa; Maria confiou no Senhor, que de uma virgem poderia nascer o Verbo Eterno feito carne.
As tensões, as fadigas e toda hostilidade que se encontram na história não estavam nas origens da Criação, pois tudo o que Deus faz é bom, belo e verdadeiro. Do pecado, que está em nossas origens de seres humanos, flui uma tensão que permeia toda a História.
Nesse contexto escuro e nebuloso de escolhas malfeitas, aparece a luminosa Virgem Maria. Contemplando Maria, somos capazes de ver alguém que não desviou seu olhar do Criador, que foi capaz de viver totalmente seu sim a Deus. Nela, o bem triunfará na forma mais elevada possível, com a salvação que seu Filho Jesus oferecerá aos filhos de Adão decaído.
Desde a Antiguidade, no tempo da Patrística, os Santos Padres identificaram Maria como a “Nova Eva”. São Justino dirá que Eva consentiu à serpente, e Maria consentiu ao anjo. Eva, por sua desobediência, teve como consequência a morte; Maria por seu consentimento, torna-se geradora de Cristo, o libertador da morte.
Já Santo Irineu dirá que ambas são virgens, são esposas, têm uma mensagem divina a seguir, e seus atos têm relevância social e universal. Eva, desobediente e, com sua incredulidade, herda a morte para a humanidade. Maria escolhe a vida e, com sua fé, gera o vencedor da morte que dá a vida a todos. Para Santo Irineu, a presença de Maria, na História da Salvação, tem uma eficácia de dimensão universal com valor retroativo que atinge até a própria Eva.
Foi Santo Irineu, bispo de Lyon, no século II, quem usou a bela imagem de Maria como aquela que desata os nós do pecado da humanidade. Ele escreveu: “O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; o que a virgem Eva havia amarrado com sua incredulidade, a Virgem Maria desatou com sua fé.”[1]
Enquanto é a Nova Eva, Maria é mãe da Nova Criação. Ela foi concebida imaculada (i-mácula: sem a mancha) do pecado de Adão e Eva, sem o pecado original. Ainda que tenha nascido como qualquer ser humano, dentro da tradição familiar de seus pais, aprouve a Deus preservá-la do pecado desde sua origem.
Maria foi preparada pelo amor divino para viver em um mundo envelhecido, mas totalmente capaz de gerar um novo mundo em Cristo, seu Filho. É por conta do Filho que ela vai gerar que tudo isso acontece. “Era necessário para a obra da salvação, pois Deus não podia nascer do pecado.”[2] O dogma da Imaculada, portanto, tem total referência a Cristo prioritariamente. Da carne da Imaculada, e somente dela, se formará a carne do Verbo eterno.
Celebrar Maria, como Imaculada e Nova Eva, nos faz acreditar que o mal não é maior que o bem, e que é possível vencer, em Cristo, todo pecado. Significa trabalhar para desatar os nós que causam injustiça, mentira, corrupção e violência, frutos da ação do demônio no mundo. Somos filhos da Nova Eva; devemos viver como filhos da luz.
Dom Leomar Antônio Brustolin -Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3
[1] IRINEU DE LYON. Contro le eresie. III, 22,4.
[2] LAURENTIN, R. María: clave del misterio cristiano, p. 52.