A Lei de Deus e o Caminho para a Páscoa
Caros irmãos e irmãs, estamos celebrando o 3º Domingo da Quaresma neste caminho de preparação para a Páscoa. Já vimos que Jesus depois de ser batizado foi para o deserto, onde passou 40 dias e ali foi tentado por satanás. Celebramos sua transfiguração e hoje queremos olhar para outra realidade da vida de Jesus, mas dentro do mesmo caminhar, ou seja, se Ele foi ao deserto e com a força do Espírito, venceu as tentações e depois mostrou aos seus discípulos o fim, a sua glória na transfiguração, hoje ele volta o olhar à realidade que o cerca no Templo de Jerusalém e nos convida a preparar o coração como Templo do Senhor, morada de Deus.
A primeira leitura lembra o Decálogo, a Lei de Moisés que conhecemos como os 10 Mandamentos e com clareza nos alerta para aquilo que causa escravidão, nos distancia de Deus e também dos irmãos e irmãs. Catequeticamente podemos nos perguntar: Quem é que se lembra de quais são os 10 Mandamentos da Lei de Deus? Somos cristãos e deveríamos saber, pois eles são para serem vivenciados.
Os Mandamentos são orientações para nossa vida, não são proibições, como às vezes interpretamos. Que bom que eles nos colocam limites para garantir o que de melhor nós podemos fazer. Quando os entendemos não como uma proibição, mas como uma segurança naquilo que devemos viver, os valorizamos um pouco mais. Eles nos colocam diante do perigo de algumas coisas que não fazem parte do projeto de Deus. Colocam-nos na relação com Deus e com os irmãos. Eles são para isso, para termos um olhar voltado para Deus – “Amar a Deus sobre todas as coisas; guardar o domingo como Dia do Senhor; não usar o nome de Deus em vão.” A leitura começa dizendo: “Eu sou o seu Deus que te tirou do Egito”. Assim os Mandamentos servem para garantir a nossa liberdade, como o foram para o povo hebreu, e não para nos oprimir. Não vêm impedir o que é importante para nós, mas garantir nossa liberdade diante de Deus e diante dos outros. Estes “dez não” que ouvimos nos Mandamentos são para garantir todos os “sim” que podemos dar, em número bem maior, com a liberdade de nossa vida.
Perguntamos-nos então: se não amo a Deus, que sentido tem a minha vida cristã? Se não respeito Deus como o Senhor da vida, o que estou fazendo aqui?
Na segunda leitura São Paulo anuncia Cristo crucificado, “escândalo para os judeus, mas salvação para os que Nele creem”. Um convite para contemplar Cristo crucificado pela nossa salvação. Contemplar a cruz não como sofrimento, mas como graça e amor.
O Evangelho ajuda retomar o caminho quaresmal e vencer a tentação de negarmos a Lei de Deus por uma prática distante de seu projeto, vencendo também a tentação de não perceber o valor da cruz.
Mais ainda, Jesus mostra que somos importantes e que Deus habita em nós. O texto narra que quando Jesus chega ao Templo e vê o comércio, vê que aquele espaço está longe de ser um ambiente de Deus, pois está tomado pela enganação, pelas falsidades, pela exploração, pela falta de amor, que são situações contrárias à proposta de Deus, faz um chicote para expulsar a todos. Jesus é radical, é firme para ressaltar a falta de respeito com o lugar de Deus. Isto ajuda-nos a compreender que a quaresma não deve ser uma preocupação externa, superficial de nossa vida, mas é algo profundamente interior, porque o Templo de Deus é o nosso coração.
Se as tentações passam pela nossa cabeça e se somos chamados a contemplar o Cristo glorioso na Transfiguração, é preciso trabalharmos o nosso interior. Só com Deus é possível contemplar a visão futura, a visão da glória, da ressurreição. Mas isto exige tirar do coração às falsidades; tirar do coração a exploração; tirar do coração a falta de amor a Deus; tirar do coração a falta de amor para com o próximo que nos impede uma vivência fraterna. Só assim, nos tornamos templos de Deus, capazes de alcançar a vida eterna.
Desta forma, acolhendo a Palavra de Deus com a disposição de sincera conversão, vivendo os seus Mandamentos, nesta jornada para a Páscoa, com o salmista, digamos: “Senhor, tu tens palavras de vida eterna”! Amém!
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim