A liturgia e a espiritualidade, o segundo pilar da casa

Seguindo a imagem já sugerida no artigo anterior, da casa como símbolo bíblico para a ação evangelizadora, situamos o lugar da liturgia e espiritualidade. É o segundo pilar da casa. Os cristãos expressam e manifestam sua comunhão na celebração da Palavra e na Eucaristia “fonte e ápice da vida cristã” (LG, n.10). A nossa identidade nos é dada pelo vínculo indelével com Jesus Cristo, pelo nosso batismo. Nossa vida nele, ligada a Ele e guiada pelo Espírito Santo que nos fez “cristãos”, caracteriza nossa espiritualidade cotidiana. Nosso Papa Francisco afirmou: “Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa-Nova, não só com palavras, mas, sobretudo, com uma vida transfigurada pela presença de Deus” (EG n. 259).

A Eucaristia é a máxima expressão de toda espiritualidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo. Ela é sempre um ato comunitário. “A comunidade eclesial tem na Eucaristia a sua mesa por excelência: memorial da Páscoa do Senhor, banquete fraterno, penhor da vida definitiva. Ela transforma as pessoas em discípulos missionários de Jesus Cristo, testemunhas do Evangelho do Reino.” (CNBB, Diretrizes, n. 94). Portanto, uma comunidade se forma e expressa sua fé católica na celebração da Eucaristia, mesmo quando passa muito tempo sem ter esta possibilidade e santifica o Domingo pela celebração da Palavra.

Ainda, o cristão católico precisa da oração mais do que como um meio para conseguir alguma graça especial, para estar sempre na comunhão com aquele que vive em nós, o Cristo Ressuscitado. Por isso, as Diretrizes dizem que “na pastoral, é preciso superar a ideia de que o agir já é uma forma de oração. Quando confundimos agir com rezar, chegamos a abreviar ou dispensar os tempos de oração e de contemplação. Quando reduzimos tudo ao fazer, corremos o risco de nos contentar apenas com reuniões, planejamentos e eventos. Estes são importantes para no cotidiano da pastoral, mas não substituem a vida de oração” (n. 97). Um caminho de oração deve moldar a vida do discípulo para a misericórdia, como disse S. Paulo: “tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Fl 2,1). Recorda-nos o Papa Francisco, que “sem momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado, quebrantamo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor apaga-se” (EG, n. 262).

Neste caminho espiritual, que tem as características de cada batizado, recordamos o lugar que na comunidade deve existir para celebrar o perdão e a misericórdia do Senhor. Precisamos incentivar ainda mais o Sacramento da Penitência, pois “a Igreja não é a comunidade dos perfeitos, mas dos pecadores perdoados e em busca do perdão (Mt 9,13), ‘não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa’ (EG, n.47)” (CNBB, Diretrizes, n. 101). A consciência de que todos nós somos perdoados e acolhidos por Deus, nos deve fazer misericordiosos e nos aproximar de todos.

Com certeza, neste caminho espiritual, não podem ser dispensadas expressões da piedade popular, sobretudo quando ligadas a um santo padroeiro ou à Virgem Maria. “É preciso, porém, ter atenção para os riscos de instrumentalização da piedade popular, quando é apresentada de modo intimista, consumista e imediatista” (CNBB, Diretrizes, n. 100).

Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta