A Miséria e a Misericórdia

Saudamos fraternalmente todos os irmãos e irmãs ouvintes e leitores da Voz da Diocese, onde já caminhamos para o final deste período quaresmal, pois o próximo domingo será o “Domingo de Ramos” e início da Semana Santa.

Caríssimos irmãos e irmãs. O Profeta Isaías, na Primeira Leitura procura motivar o povo de Israel que vivia no exílio da Babilônia, a renovar sua confiança em Deus, que quer libertá-lo, mas o povo tem medo de uma nova aventura pelo deserto. Ele sente a dificuldade de compreensão por parte do povo que se preocupa com o sofrimento já experimentado em sua história quando da saída do Egito. O Senhor diz: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43,18) E o profeta lembra que Deus não se esqueceu de seu povo. Deus que reconduzir novamente seus filhos e filhas deportados para a escravidão, à sua casa.  “Este povo, eu o criei para mim e ele cantará meus louvores” (Is 43, 21) diz o Senhor.  Essa mudança é um convite a depositar a confiança no Senhor que não se esquece de nós. Também nos reinsere na proposta do tempo quaresmal que é de conversão, de volta para o Senhor.  “A conversão nada mais é do que mover o olhar de baixo para cima, um simples movimento dos olhos é suficiente” dizia o Beato Carlo Acutis. Portanto, voltar nosso olhar para o alto; voltar nosso olhar para o Senhor; voltar nossa atenção às coisas do céu.  Caminho ainda em tempo de fazer neste final de quaresma.

Prezados irmãos e irmãs. Também nos ajuda no caminho de conversão o que nos apresenta a Segunda Leitura tirada da Carta de São Paulo aos Filipenses. Duas conotações importantes, podemos destacar nesta Carta. Primeiramente, expressa a gratidão de Paulo à comunidade dos filipenses, pelas manifestações carinhosas e solidárias com o seu sofrimento na prisão. Em segundo lugar, o texto é um verdadeiro testemunho da opção feita por Paulo após sua conversão. Vale a pena recordar o que ele diz: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele. […] Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus” (Fl 3,8.13-14). Então chama-nos a abandonar as coisas antigas para deixar-se conduzir para uma vida nova, transformados pela experiência do encontro com Cristo. A isso chamamos também de conversão. Une-se assim, a mensagem de Isaías no convite a renovar a confiança em Deus que não abandona seu povo e o testemunho de Paulo que muda radicalmente sua vida no encontro com Jesus e vai em busca de configurar-se a Ele.

O Evangelho de João não foge desta temática ao nos recordar mais uma vez, a grandeza da misericórdia de Deus manifestada em Jesus, pronto a perdoar qualquer que seja o pecado. No episódio da mulher pecadora, Jesus usa de sua pedagogia para desmascarar a armadilha que lhe fizeram os fariseus e os mestres da lei, dizendo a eles: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). Todos foram embora. Permaneceu somente a mulher e Jesus. Ao ver isso, Jesus lhe pergunta: “Mulher! Ninguém te condenou?” Respondeu ela: “Ninguém, Senhor”. Disse Jesus: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,10-11). Podemos dizer que nesta cena aparece a miséria da mulher e a misericórdia de Jesus. Ao acolher a misericórdia de Jesus, a mulher se compromete a superar a miséria de sua vida, ou seja, o pecado.

Caros irmãos e irmãs. Ainda é tempo de buscar o sacramento da confissão para fazer a experiência do encontro entre nossa miséria e a misericórdia de Jesus, manifestada neste sacramento. Renovar nosso propósito e compromisso de lutar contra nossas misérias com a força que brota da experiência do amor misericordioso de Deus. Esta poderá ser a grande oportunidade de fazer a melhor preparação para a Páscoa; a verdadeira Páscoa; a libertação da escravidão e do sofrimento e a configuração à vida de Cristo na certeza de participar de sua Ressurreição.

Que Deus abençoe a todos e um domingo de muitas alegrias junto às suas famílias e comunidades.

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim