A mudança a partir do coração
No dia 24 de outubro o Santo Padre nos presenteou com mais uma Carta Encíclica denominada Dilexit nos (Amou-nos), sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo. O Papa nos recorda que somente a partir do coração seremos capazes de mudar: “só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração”. (Dilexit Nos, n. 28). Mas sozinhos não somos capazes, é necessário unirmos o nosso coração ao coração de Jesus: “o nosso coração unido ao de Cristo é capaz deste milagre social”. (Ibidem).
Conta-se que um pai procurou um mestre espiritual no Oriente, levando consigo seu filho, um menino inquieto, agitado, que constantemente agredia a si mesmo e aos outros, como se estivesse possuído pelo maligno. Depois de ouvir as reclamações do pai, o mestre espiritual chegou perto do menino, e sem dizer palavra alguma, abraçou-o. Ficou assim por um longo tempo. Depois devolveu o menino ao seu pai, curado.
O amor é assim, o remédio capaz de curar as feridas mais profundas, a força capaz de nos fazer passar da morte para a vida. O amor pode “criar um novo céu e uma nova terra”, “enxugar toda lágrima dos olhos”, “fazer novas todas as coisas” nos diz a Palavra de Deus. O amor é algo tão forte, tão verdadeiro, tão profundo, que a Sagrada Escritura chega a afirmar que “passamos da morte para a vida, porque amamos aos irmãos. Quem não ama, permanece na morte”. (1Jo 3,14).
O Santo Padre nos lembra que “o amor e coração não estão necessariamente unidos, pois num coração humano podem reinar o ódio, a indiferença e o egoísmo. Porém, não atingimos a nossa plena humanidade se não saímos de nós mesmos, tal como não nos tornamos inteiramente nós mesmos se não amamos. Portanto, o centro mais íntimo da nossa pessoa, criado para o amor, só realizará o projeto de Deus enquanto amar. Assim, o símbolo do coração simboliza ao mesmo tempo o amor”. (Ibidem, n. 59).
Por isso a importância de que o nosso coração esteja unido ao coração de Jesus. Precisamos configurar o nosso coração ao coração de Jesus, o caminho para tanto encontramos no Evangelho: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). O Evangelho nos convida a amar não como somos amados por outras pessoas, mas como Jesus nos amou. Se nos perguntassem: Quem tu amas mais a tua família ou os teus amigos? Responderíamos, sem dúvida: a minha família, é claro. Já Jesus não amou menos os apóstolos que sua mãe, nem por isso a desmereceu. Amar como Jesus amou é amar a todos sem distinção. E mais, Jesus amou e manda amar os nossos inimigos. Onde está o mérito em amar a família, os amigos, aqueles que são do nosso grupo ou pensam igual a nós?
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13,35). Diferente daquilo que muitas vezes nos é propagado, o que distingue uma pessoa como discípula de Jesus Cristo, como alguém que encontrou o Deus vivo e verdadeiro, não é a prosperidade financeira, mas o amor. O amor que temos em nós e que expressamos em nossas palavras e atitudes reflete o quanto somos verdadeiros discípulos de Jesus.
Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé