A mulher perdoada
O Evangelho deste Domingo (João 8,1-11) coloca diante de nós uma mulher “surpreendida em flagrante adultério”. De acordo com a lei de Moisés, lembram os escribas, a mulher devia ser morta (Levítico 20,10 e Deuteronômio 22,22-24). Os escribas e fariseus interrogam Jesus, como quem pergunta: Mestre, aplicamos ou não a Lei?
Reparemos que o Evangelho diz que se tratava de uma cilada contra Jesus. Entretanto, Jesus aproveitou esta oportunidade para revelar a misericórdia de Deus para com os pecadores. Recordemos o convite à conversão, repetido de vários modos, por Deus na Sagrada Escritura: “Convertei-vos! Renunciai a todas as vossas culpas! Porque havíeis de morrer? Eu não desejo a morte de ninguém! (Ezequiel 18, 30-32)
Podemos imaginar a compaixão de Jesus. Encontram-se frente a frente a Misericórdia e a miséria. Jesus fica silencioso. Não culpa nem desculpa o comportamento da mulher. Ele sabe que o pecado é um caminho errado, pois gera a infelicidade e rouba a paz. A propósito, escutemos o Papa Francisco, na Bula de proclamação do Ano da misericórdia, que celebramos: “permanecer no caminho do mal é fonte de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa de estender a mão.” Foi o que fez Jesus; ficou em silêncio durante uns momentos e escreveu no chão, dando tempo aos acusadores para que olhassem para a sua consciência, para que recordassem a sua própria fragilidade. Perante a dureza de coração desses homens com pedras nas mãos, Jesus fala deste modo: “quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. E continuou a escrever no chão, à espera que os acusadores se deixassem mover pelo amor fraterno e pela compreensão. Quando os escribas e fariseus se retiraram, Jesus não perguntou à mulher se ela estava arrependida, mas tranquilizou o seu coração angustiado com a serenidade do perdão: “Ninguém te condenou? Eu também não te condeno.” E convidou-a a seguir um caminho novo: “Vai e não tornes a pecar”.
A bondade divina não passa pela morte do pecador, mas pelo convite à conversão: “Será a morte do pecador que me agrada? Quero que abandone o seu mau proceder e que viva. Convertei-vos e vivereis.” (Ezequiel 18, 23.32)
Esta página da Bíblia também nos faz refletir sobre a nossa maneira de proceder: Estamos sempre dispostos a julgar e a condenar os outros. É preciso reconhecer que todos necessitamos da misericórdia divina. “Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e perdoar. Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afetos, da própria vida.” (Bula do Ano da Misericórdia).
Estamos já muito próximos da Semana Santa. Aproximam-se as celebrações pascais. Aproveitemos estes últimos dias da Quaresma para fazermos uma boa confissão de nossos pecados, como um autêntico desejo de conversão, de mudança de rumo em nossa vida.
Que as celebrações pascais nos encontrem reconciliados com Deus e com nossos irmãos, na busca de vivermos com dignidade nossa vida de cristãos.