A presença do Ressuscitado nos passos da nossa vida
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A fé é certamente um dom, e aqueles que crêem no Senhor ressuscitado, como nos apresentam os Evangelhos, são envolvidos num caminho de busca que os conduz a Deus através da escuta da Palavra, da oração, da interpretação dos sinais e da prática da caridade para com os irmãos. Quem espera “ver para crer” corre o risco de permanecer eternamente cego na fé, de não acolher as muitas provas da misericórdia de Deus à nossa disposição, a primeira entre todas é a morte e ressurreição de Cristo.
Como comunidade de fé, celebramos a Páscoa do Senhor, mas a vitória de Cristo ressuscitado não pode marcar a nossa vida de forma positiva sem o nosso consentimento. Quando deixarmos de lado o orgulho da auto-suficiência, venceremos as resistências do coração e aceitaremos que o Senhor Jesus possa se fazer presente na nossa vida, não para mostrar as suas chagas, mas para curar as nossas, que nos impedem de crer e ver o Senhor ressuscitado presente na nossa história de vida.
Tomé queria colocar o dedo nas chagas de Jesus, mas o Senhor ressuscitado quer tocar as chagas do nosso coração, para curá-las com seu amor e a sua misericórdia. Deus Pai dá a cada um de nós a oportunidade de renascermos para uma vida nova. E Jesus nos ensinou que o Pai é misericordioso e piedoso para com seus filhos e filhas. Na vida, penso que muitos de nós já fizemos a experiência de nos colocar diante de Deus, para clamar pela sua misericórdia, expressando a confiança no seu amor, num grito de dor que saía do silêncio e do mais profundo do coração.
Deus é misericórdia, “lento na ira e grande no amor”. Isso nos leva a refletir sobre a acolhida do Pai ao filho que, tendo abandonado a sua casa, resolve voltar, talvez só para matar a saudade, ou para receber um abraço de vez em quando, porque não tem a coragem de voltar definitivamente. Mas embora tenha vagado por muitos caminhos, não esqueceu o caminho que o conduz à casa do Pai.
A comunidade cristã manifesta a comunhão com o senhor Jesus através da comunhão entre seus membros. Quando nela se vive uma autêntica comunhão de fé, ela se torna também lugar de perdão e de anúncio da misericórdia de Deus. A comunidade pode tornar-se lugar de acolhida para quem tem dificuldade em crer e necessita encontrar irmãos que deem testemunho do amor e da misericórdia de Deus. Ela é o local por excelência da comunhão, mas não é possível haver comunhão sem a misericórdia, que se expressa no perdão e na reconciliação com Deus e com os irmãos.
A desagregação e a exaltação dos egoísmos pessoais são um contratestemunho que destroem a fé, além da caridade. A força das comunidades cristãs primitivas estava no testemunho que davam do Cristo ressuscitado. E expressavam esse testemunho através de uma vida de comunhão, manifestada pelos seus membros, como um só coração e uma só alma.
Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul