A Solenidade de Todos os Santos
A santidade cristã é, antes de tudo, uma participação na vida de Deus. Tal participação se dá, sobretudo, através de uma intensa vida sacramental e da vivência de outros meios de comunhão com Deus que a Igreja nos oferece (vida de oração, a caridade fraterna, a comunhão entre os irmãos na mesma fé etc).
A santidade cristã não será jamais fruto de esforços humanos desvinculados da ação da Graça de Deus. Naturalmente que é exigido do cristão um esforço ascético, de luta, de combate contra o mal. Mas os grandes santos da Igreja foram, antes de tudo, homens e mulheres que se abriram ao dom de amor de Deus e procuraram dar uma resposta pessoal à iniciativa divina.
A origem da santidade cristã está na irradiação que Cristo faz da santidade de Deus. Quem de Cristo se aproxima, com retidão de intenção e desejos sinceros de santidade, se predispõe para esta transformação que a Graça de Deus opera em sua vida. Sobre Cristo repousa “o espírito de santidade”. Na verdade, só Ele é Santo e todos aqueles que dele se aproximam e se abrem para a Graça comunicada por Cristo, participam existencialmente desta santidade.
A 1a Leitura desta Solenidade é tirada do livro do Apocalipse de São João (Apocalipse 7,2-9.9-14) e nos apresenta parte da visão que o Apóstolo São João teve. O texto está dentro de uma parte do livro do Apocalipse chamado de “os sete selos”. Estes “selos” são abertos pelo Cordeiro imolado, isto é, por Cristo que nos é assim apresentado como aquele que revela os desígnios, a vontade de salvação de Deus.
Nesta visão, aqueles que fazem parte da Igreja, os “assinalados”, são abençoados e protegidos por Deus. E por Ele serão conduzidos a uma autentica felicidade. O convite para fazer parte da Igreja é universal e o caminho para a glória, que nos é proposto, passa pela perseguição e pelas provações que os fiéis devem enfrentar.
A 2a Leitura (1 João 3,1-3) nos apresenta um trecho no qual o Apóstolo considera a situação de um indivíduo que vive em comunhão com Deus. Quem assim vive é considerado por Deus como um filho, portanto objeto de amor deste Pai tão bondoso.
Quem não conhece a Deus através da revelação que Jesus Nosso Senhor fez, não será capaz nunca de compreender a grandeza do amor que Deus tem para com os seus filhos.
No Evangelho desta Solenidade (Mateus 5,1-12) vemos como Nosso Senhor promete a bem-aventurança eterna a uma determinada categoria de pessoa, chamada de “pobre em espírito”. As demais especificações das bem-aventuranças nada mais são do que explicações do que significa ser “pobre em espírito”,
Para Jesus, aqueles que são desprezados pela sociedade, se souberem pôr a sua confiança no Senhor e viver em espírito e verdade as bem-aventuranças, serão destinados ao Reino dos céus.
A Solenidade de hoje nos faz compreender que, pelo Batismo, todos somos chamados à santidade, à plenitude da vida cristã. A verdadeira santidade é vivida na normalidade do dia a dia, no cumprimento amoroso, por Deus e pelos irmãos, dos nossos deveres de estado. O mundo de hoje, marcado por tantas infidelidades a Deus, certamente tem também os seus santos: cristãos normais que realizam a cada dia a sua vocação, buscando viver e trabalhar com dignidade e honestidade, e fundamentando suas vidas no amor de Deus. Comungar significa nos fortalecer neste caminho de santidade.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen