A solidariedade em tempo de provações
A realidade que estamos vivendo como sociedade está sendo duramente marcada pela pandemia, provocada pelo COVID19, mas também por fatores climáticos não rotineiros, que tem atingido com maior intensidade algumas regiões, tocando a vida de milhares de pessoas.
Qual a nossa atitude, como cidadãos e cristãos, frente aos acontecimentos que tocam a vida das pessoas e as fragilizam do ponto de vista emocional, mas também espiritual e social? As dores e os sofrimentos que tocam a vida dos nossos irmãos e irmãs me comovem? Despertam em mim sentimentos de compaixão e solidariedade, ou me apego às minhas frágeis seguranças/inseguranças, e permaneço indiferente à dor e ao clamor dos que precisam de ajuda?
A nossa indiferença e egoísmo podem ser as causas que nos levam a vivermos a “cegueira” que afeta a visão do coração, impedindo-o de ver a necessidade e a dor presente no rosto dos irmãos que estão distantes, mas também daqueles que estão muito próximos de nós, às vezes participando conosco da vida de fé na própria comunidade. Quando podemos, mas não nos dispomos a participar dos gestos de solidariedade, feitos com o intuito de amenizar as necessidades de quem está passando por duras provações e privações, damos um contra-testemunho da fé que professamos e ignoramos os valores mais básicos de qualquer sociedade, por mais primitiva que ela seja.
Por isso, faz-se necessário, ampliarmos a rede de solidariedade, para darmos uma resposta caritativa, que fale do nosso amor a Deus, mas também de uma fé comprometida com a dignidade da vida dos que estão sendo mais provados pela realidade do momento. Não podemos nos esconder atrás do escudo do julgar aqueles que precisam, lembrando que as palavras do santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo nos dizem: “Não julgueis, para não serdes julgados; pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados”(Mt 7,1-2).
Creio que as inúmeras ações promovidas com a participação do Povo de Deus das nossas paróquias, comunidades e instituições, presentes na nossa sociedade, já proporcionaram uma significativa ajuda a milhares de pessoas e famílias que estavam e continuam passando por extremas necessidades. Temos percebido, que na medida em que se prolongam os efeitos da pandemia, aumentam também o número dos que precisam de solidariedade.
Por isso, louvo e agradeço a Deus pela iniciativa dos Movimentos Eclesiais, presentes na nossa Igreja Diocesana, que abraçaram o compromisso de mobilizar os participantes e a sociedade para fortalecermos a rede de solidariedade, indo ao encontro das pessoas e famílias que estão passando por provações e necessidades.
Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul e Presidente do Regional Sul 3 da CNBB