A Teoria de Gênero
A Declaração Dignitas Infinita, publicada em 25 de março passado, tratou de temas complexos e muito atuais, sempre em vista de assegurar que a dignidade humana seja preservada. Entre as temáticas emerge a teoria de Gênero, que tem gerado reflexões e comportamentos bastante polêmicos.
Em primeiro lugar, reafirma-se que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, cuidando de evitar toda discriminação e sobretudo as diversas formas de agressão e violência. A Igreja repudia o fato de que, em alguns lugares, não poucas pessoas são encarceradas, torturadas e até mesmo privadas da vida unicamente pela sua orientação sexual.
Essa postura de profundo respeito a cada pessoa humana, contudo, implica em ensinar o que Jesus revelou como a Verdade que Deus quer para todos os seus filhos e filhas. Por isso, a Igreja evidencia os intensos pontos críticos da teoria de gênero, recordando o que afirmou o Papa Francisco ao dizer que a teoria de gênero é perigosíssima, porque cancela as diferenças na pretensão de tornar todos iguais. Causa grande dissenso entre os cientistas e especialistas a tentativa de negar a maior das diferenças possíveis entre os seres viventes: a diferença sexual.
A Igreja sustenta que o respeito ao próprio corpo e àquele dos outros é essencial diante da proliferação dos pretensos novos direitos, propostos pela teoria de gênero. Tal ideologia “propõe uma sociedade sem diferenças de sexo e esvazia a base familiar”.
É importante, nesse sentido, reler o que escreveu o Papa Francisco na Amoris Laetitia sobre a ideologia de gênero que “leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher. (…) Preocupa o fato de algumas ideologias desse tipo, que pretendem dar resposta a certas aspirações por vezes compreensíveis, procurarem impor-se como pensamento único que determina até mesmo a educação das crianças. É preciso não esquecer que sexo biológico e função sociocultural do sexo podem-se distinguir, mas não separar. Por outro lado, a revolução biotecnológica no campo da procriação humana introduziu a possibilidade de manipular o ato generativo, tornando-o independente da relação sexual entre homem e mulher. Assim, a vida humana, bem como a paternidade e a maternidade, tornaram-se realidades componíveis e decomponíveis, sujeitas de modo prevalecente aos desejos dos indivíduos ou dos casais” (AL 56). E o Papa alerta: “Uma coisa é compreender a fragilidade humana ou a complexidade da vida, e outra é aceitar ideologias que pretendem dividir em dois os aspectos inseparáveis da realidade. Não caiamos no pecado de pretender substituirmos o Criador. Somos criaturas, não somos onipotentes. A criação precede-nos e deve ser recebida como um dom. Ao mesmo tempo somos chamados a guardar a nossa humanidade, e isso significa, antes de tudo, aceitá-la e respeitá-la como ela foi criada”.
Num tempo tão complexo como o nosso, precisamos respeitar as pessoas, mas continuar distinguindo os princípios das práticas e necessidades. A moral e a ética não podem negociar princípios que pretensamente sejam considerados culturais, pois há uma lei natural, que por mais rejeitada que seja, existe e ainda determina a vida.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3