A tradição do presépio

O Natal celebra a encarnação de Deus na história humana. Em muitos lugares existe a tradição de montar o presépio. Qual a origem dessa tradição? Ela é fruto de uma intuição de Francisco de Assis.

“Três anos antes da morte do bem-aventurado Francisco, aconteceu um outro fato maravilhoso, que penso dever narrar, embora deixe outros de lado. O santo homem meditava sempre e com assiduidade os fatos relativos à vida de Cristo e, enquanto lhe fosse possível, não queria deixar passar nem um jota ou um ponto (Mt 5,18) daquilo que é narrado nos livros do santo Evange­lho. Ao contrário, dentre todas as coisas que foram escritas sobre Cristo, além daquelas que acontecem na instabilidade da nossa vida, desejava ardentemente carregar o suavíssimo jugo e o peso levíssimo (Mt 11,30) do Senhor.

Por isso, uma vez, ao aproximar-se a festa do Natal do Senhor e querendo representar da maneira mais verossímil possível a hu­mildade e a pobreza do menino salvador que nasceu em Belém, o homem de Deus preveniu um homem devoto e nobre, de nome João, na vila de Greccio. Este lhe preparou o boi e o asno com o presépio em vista das futuras alegrias da festa.

Enfim, chegou a solene noite, e o bem-aventurado Fran­cisco estava presente com muitos irmãos que vieram com ele. No presépio foi colocado o feno, trouxeram o boi e o asno e com alegria começaram as celebrações da vigília. Tendo acorrido muita gente de todas as partes, a noite foi passada em meio a uma insólita alegria, toda iluminada por velas e fachos, e as solenida­des da nova Belém foram celebradas com um novo rito. Os ir­mãos cantavam os devidos louvores do Senhor, e todos os que es­tavam presentes aplaudiam com cantos de alegria. O bem-aventurado Francisco estava diante do presépio; repito, es­tava ali entre suspiros de imensa alegria; estava ali inundado de indizível suavidade.

Finalmente, sobre o mesmo presépio, celebrou-se o rito da Missa, e o próprio santo, como levita, vestindo os solenes para­mentos, cantou com voz sonora o Evangelho e depois pregou do­cemente ao povo sobre o pobre Rei nascido em Belém. Sentia tanta doçura e piedade pelo nascimento do referido Rei que, quando devia nomear Jesus Cristo, por sua excessiva ternura de amor, como que balbuciando, o chamava de ‘menino de Belém’”. (Juliano de Espira. Vida de S. Francisco, n. 53-4).

Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB