A vida e o viver

O que é a vida? Guimarães Rosa afirma que “A vida é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma ideia falsa. Cada dia é um dia”.

O que é o viver? Responde o mesmo autor: “Viver – não é – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo’”.

Responder as perguntas “o que é a vida?” e “o que é o viver?” requer também atenção ao que indica a biologia, a sociologia e a antropologia.

Para o senso comum, a vida é geralmente entendida como articulação das funções orgânicas que anima os corpos da natureza. A morte, por sua vez, seria o acontecimento que finaliza a vida. Esta compreensão vê a vida e a morte como objetos opostos, podendo ser entendidas e determinadas a partir de classificações e sistematizações metodológicas, passíveis de entendimento e manipulação científica.

Contudo, a compreensão oferecida pelas ciências acima elencadas não respondem satisfatoriamente às questões “o que é a vida?” e “o que é o viver?”.

A vida e o viver jamais são algo “fora” do ser humano! A vida é o que nos é mais próximo; ela constitui a nossa essência, o íntimo mais íntimo de todo ser humano. Ela jamais pode ser objetivável, “coisificável”. Ela não cabe numa definição, pois ela, a cada dia, se dá.

Não sendo possível falar sobre a vida, nada impede de falar “desde a vida”. Assim, é possível uma aproximação a respeito da vida e do viver a partir do interesse que estamos sendo, na experiência efetiva do que somos.

A vida nunca se apresenta definida, acabada. Ela é sempre uma possibilidade originária de ser. Ela é uma possibilidade de ser, constantemente, se superando. Compreende-se, assim, que a vida jamais é coisa. Viver é ser, e ser significa existir. A existência se manifesta no que fazemos. O viver, a vida se manifesta no que fazemos.

Tendo presente o que se tentou acima descrever, ou seja, de alguma forma dizer o que é a vida e o que é viver, compreende-se porque o fruto da geração humana, desde o primeiro momento de sua existência, exige o respeito, o cuidado e a promoção incondicional que é devido ao ser humano na sua integralidade. Desde o primeiro instante da concepção é pessoa viva, iniciando seu viver. Sendo assim, goza dos direitos da pessoa; antes de tudo o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida.

Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB