A Vinha escolhida pelo Senhor e os seus frutos

Dom Antônio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen

A primeira leitura da Liturgia deste Domingo (Isaías 5,1-7) está repleta de pormenores de sentido simbólico a que devemos prestar atenção. O «amigo», a que o profeta Isaías se refere, é Deus. A «vinha» é o Povo escolhido que fora retirado da escravidão do Egito; a «fértil colina» é a Palestina, onde este povo se estabelecera «limpando as pedras» que se encontravam no campo e foram afastadas. Tais pedras eram os povos que habitavam essa terra e foram desalojados; a «torre» nela erguida refere-se à proteção que Deus prestara à dinastia do rei David; as «uvas» eram as boas obras que o Senhor esperava do seu povo. Os «uvas selvagens» foram: as infidelidades do povo à Aliança prometida a Deus, a injustiça social, a mentira, a exploração dos mais fracos, a opressão dos pobres, dos órfãos e das viúvas. Israel celebrava os rituais prescritos pela lei, mas não convertia o seu coração ao Senhor.

O castigo de que o profeta fala no texto, foram as invasões dos assírios e babilônios, que destruíram Israel (a vinha do Senhor) e deportaram os seus habitantes para as suas terras como escravos e os campos que possuíam ficaram abandonados e repletos de espinhos e mato.

A liturgia da Palavra ao retomar, no Evangelho (Mateus 21,33-43), a parábola contada por Jesus, apresenta-nos uma vinha diferente que não é destruída. O desígnio salvador de Deus, a história do Povo eleito, as atitudes de infidelidade dos seus chefes, a vinda do Filho e a recusa de Israel em aceitá-lo, estão bem evidentes através da parábola.

Ao pedir a participação e a opinião daqueles que ouvem sua parábola, Jesus os escuta dizer que, tendo em vista a atitude que os empregados tomaram para com o senhor da vinha,  este «Mandará matar sem piedade esses malvados…».

Jesus, porém, não corrobora tais palavras ferozes e de devastação. O Senhor acentua o sentido penetrante das suas palavras no desfecho: «Vos será tirado o Reino de Deus e dado a um povo que lhe produza os seus frutos.»

Nós pertencemos a esse novo povo eleito por Deus, como Igreja, fundada pelo próprio Jesus Cristo e que, enriquecida pelos dons do seu fundador, tem a obrigação de guardar fielmente os seus preceitos de caridade, humildade e de generosidade, a fim de anunciar o Reino de Deus a todos os povos.

A sentença conclusiva do Senhor não foi de ontem, mas tem plena atualidade nos nossos dias. O Senhor lembra-nos que todos nós corremos o risco de repetir o mesmo erro dos judeus do tempo de Jesus.

Por isso, devemos perguntar-nos individual e coletivamente: quais são os frutos que produzimos como batizados e comunidade de batizados? Como vivemos a sua mensagem: motivando o amor, a justiça social, a paz, a serenidade, a felicidade para todas as pessoas ou apenas nos exibimos nas liturgias solenes, ou fazemos gestos completamente separados da vida?

Qualquer cristão tem obrigação de desenvolver tudo o que o torna «verdadeiro e nobre, justo e puro, amável e de boa reputação», respeitado e íntegro como homem, para que «o Deus da paz esteja consigo». Assim nos aconselha S. Paulo na segunda leitura (Filipenses 4,6-9).

Que o Senhor nos ajude a produzir tais frutos.

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