Amor Pedagógico
“Os amores humanos nos levam ao amor divino, e o amor divino nos reenvia aos amores humanos, entre os quais o amor pedagógico, intrínseco ao trabalho docente. Amor específico que se distingue do ‘amor materno’, do ‘amor paterno’, do ‘amor fraterno’, do ‘amor de amigo, do ‘amor social’. (Gabriel Perissé)
Essa bela expressão apresentada pelo reconhecido educador Professor Gabriel Perissé veio ao encontro de interrogações levantadas em grupos diretivos, nos últimos dias. Constata-se que a escola tem sido fórum de resolução de questões que ultrapassam em muito a sua tarefa principal, que é educar. Gestores e educadores têm ocupado boa parte do seu tempo em atender demandas que, objetivamente, não estão vinculadas à sua missão. O que tem levado a sociedade a remeter à escola tantos problemas e conflitos?
Observa-se, sem nenhum exagero, que boa parte dos agentes escolares demandam horas a fio em diálogos com pais e profissionais externos à escola em busca de soluções para questões vivenciadas por estudantes e famílias, muitas vezes sem êxito. Já foi sugerido, inclusive, que se coloquem de modo visível a todos painéis indicando qual a missão do estabelecimento, com a intenção de frear certos abusos de quem considera tudo responsabilidade da escola. Isso pode ajudar, mas não será efetivo enquanto toda a sociedade não estiver disposta a refletir sobre o que compete aos diferentes atores sociais, especialmente no que diz respeito à civilização que estamos formando.
Com certeza, os educadores têm participação no desenvolvimento humano dos estudantes e, em última análise, são também co-responsáveis pela sociedade que temos aí, com seus aspectos positivos e com suas misérias. A filosofia no Ocidente proclama há mais de dois mil anos o amor pelo saber, que não se refere apenas às dimensões cognitivas, mas àquilo que ajuda a pessoa a crescer e desenvolver-se como indivíduo e cidadão. Montesquieu afirmava que é melhor uma cabeça bem feita a uma cabeça cheia. Talvez nossa fragilidade esteja justamente aí: centramos tudo no conteúdo e não no desenvolvimento integral da pessoa. Alfabetizamos a mente, mas descuramos do coração e das mãos.
Amor Pedagógico – conceito que precisamos aprofundar – remete-nos à urgente necessidade de dialogar com as Comunidades Educativas sobre o que é específico e inerente à nossa profissão. De igual modo, faz-se importante um diálogo sincero com alguns equivocados em sua ilusão de responsabilizar a escola por tudo o que acontece no mundo atual, bem como se faz urgente debruçar-se sobre os processos pedagógicos, constituindo grupos docentes para discussão, partilha e aprofundamento. Proponho menos palestras com alguns paladinos da educação que não a conhecem, porque jamais entraram numa sala de aula para lecionar, e mais espaços para os professores conversarem e compartilharem a missão. A primeira, por experiência, já vimos que não surtiu efeito. Hora de passarmos a novas tentativas, com os pés no chão e o coração na missão.
Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade