Amoris Laetitia – A Alegria do Amor IV
Queridas famílias. Em mensagens anteriores já tecemos algumas considerações sobre a Exortação Apostólica do Papa Francisco: Amoris Laetitia = A Alegria do Amor. Hoje continuamos nossa reflexão relativa à parte final do documento papal, abordando o tema da Espiritualidade Conjugal e Familiar (cap. IX), com sua matiz própria, neste estado de vida, onde o Senhor habita em meio aos seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. Esta comunhão familiar bem vivida torna-se caminho de santificação. Assim, os sofrimentos e os problemas são relacionados com a cruz do Senhor, que os transforma em oferendas de amor. Os momentos de alegria, de descanso, de festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como participação mais plena na ressurreição (cf. n. 315-317): “A oração em família é um meio privilegiado para exprimir e reforçar esta fé pascal”, tendo seu ponto alto na eucaristia (cf. n. 318).
Na pertença a uma só pessoa, aconteça o que acontecer, os esposos se tornam reflexo da fidelidade eterna de Deus em sua vida: “Quem não se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar deveras um só dia… Cada cônjuge é para o outro sinal e instrumento do Senhor, que não nos deixa sozinhos” (n. 319). Na espiritualidade do amor exclusivo esta pertença não tem o sentido de “ser dono” (posse) da vida do outro, o qual pertence a Deus (cf. n. 320).
Uma espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo afirma: “Os esposos cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé um para com o outro, para com os filhos e demais familiares. Deus convida-os a gerar e a cuidar” (n. 321). O amor de Deus se exprime através das palavras de amor do homem e da mulher na declaração do amor conjugal: “Os dois são entre si reflexos do amor divino” (n. 321). Esta experiência espiritual faz contemplar o outro com o olhar de Deus. Assim a pessoa amada merece toda atenção e respeito, pois tem uma dignidade infinita, por ser objeto do amor do próprio Deus. Esta consciência desperta atitudes de ternura que fazem sentir a alegria de amar e ser amado e manifestam atenção mais delicada aos limites do outro (cf. n. 323). A abertura ao outro se revela na aceitação da nova vida, na busca da felicidade e do cuidado dos outros, sobretudo dos mais necessitados, desenvolvendo o espírito de hospitalidade: “Não descuideis da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber” (n. 324).
O espelho perfeito ou a referência teológica da família cristã será sempre a Trindade Santíssima, a união entre Cristo e a Igreja, a Família de Nazaré e a Fraternidade dos Santos e Santas; porém, a vida concreta das famílias está ainda a caminho, dentro da fragilidade humana: “Nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada de uma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar” (n. 325). Como incentiva o Papa Francisco: “Avancemos, famílias; continuemos a caminhar!”. Neste sentido rezemos: Oração à Sagrada Família:
“Jesus, Maria e José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, confiantes, a Vós nos consagramos. Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja nas famílias episódios de violência, de fechamento e divisão; e quem tiver sido ferido ou escandalizado seja rapidamente consolado e curado. Sagrada Família de Nazaré, fazei que todos nos tornemos conscientes do caráter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projeto de Deus. Jesus, Maria e José, ouvi-nos e acolhei a nossa súplica. Amém”.
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul