As tentações de Jesus e a nossa luta contra o pecado
No Evangelho deste 1º Domingo da Quaresma B (Marcos 1,12-15), somos lembrados de que Jesus passou quarenta dias no deserto, sendo tentado por Satanás. Ele nos deixou um exemplo maravilhoso de humildade ao enfrentar as tentações do demônio e demonstrou uma fortaleza inabalável ao resistir sem ceder, confiando na Palavra de Deus. Como disse Santo Agostinho, “Bem podia Ele ter mantido o demônio longe de si; mas, se não fosse tentado, não nos teria ensinado a vencer a tentação“.
O demônio tentou desviar Jesus de sua missão, questionando sua relação filial com o Pai. No entanto, Jesus rejeitou esses ataques, que ecoam as tentações de Adão no Éden e as do povo de Israel no deserto.
Sua vitória sobre o tentador antecipa sua vitória na cruz da Paixão, onde comprovou a suprema obediência ao Pai, ao se sacrificar até a morte.
Durante a Quaresma, a Igreja se une ao mistério de Cristo no deserto, lembrando-nos de que: “por toda a história humana se trava uma dura batalha contra o poder das trevas que, iniciada nas origens do mundo, durará até ao dia final. Envolvido nesta peleja, o homem tem que lutar continuamente para manter-se no bem” (Gaudium et Spes, n. 37).
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que o pecado é uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade. A tentação nos convida a pecar, como nos lembra São Tiago: “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência que o atrai e alicia”.
A vitória sobre as tentações só é possível pela oração e pela vigilância, como Jesus nos instrui no Evangelho de São Marcos: “Vigiai e orai, para não cairdes na tentação”. E a vitória final sobre o pecado e a morte também nos é garantida, se formos fiéis na vivência de nosso Batismo, imensa Graça que recebemos de Deus, através da Igreja. É o que nos ensina a 2ª Leitura (1 Pedro 3,18-22): “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus.”
Devemos confiar que Deus nos capacitará a suportar as tentações: “Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças; antes fará que tireis ainda vantagem da mesma tentação, para a poderdes suportar” (1 Coríntios 10,13).
Além da oração, existem outras armas para vencer a tentação, como a confissão frequente, a participação na Eucaristia dominical, pois nela se manifesta a vitória de Cristo sobre o mal, a devoção ao Santo Anjo da Guarda e a Nossa Senhora. Tudo isto nos ajuda a sermos fortes.
Nesta Quaresma, somos convidados a fomentar a contrição e o arrependimento genuíno dos nossos pecados, não apenas com um remorso superficial, mas com o desejo sincero de mudança e de libertação de nossos pecados. No entanto, nunca podemos esquecer que não podemos nos libertar sozinhos; precisamos do perdão de Deus, obtido pela graça no sacramento da Reconciliação e da Penitência. Como Jesus proclamou, “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.
Que esta Quaresma nos ajude a encontrar o dom do verdadeiro arrependimento, reconhecendo nossa necessidade da graça de Deus que nos transforma e nos liberta do pecado. O verdadeiro arrependimento é um dom sobrenatural que só pode ser alcançado através da oração e da ação da graça divina.
E que este tempo quaresmal nos ajude a cultivarmos novas atitudes de um cristianismo levado a sério, também no que diz respeito à caridade para com o próximo, como nos ensina neste ano a Campanha da Fraternidade, que trata de nos ajudar a cultivar a verdadeira amizade, respeitosa e caridosa: somos todos irmãos, apesar das diferenças que existem entre nós.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen