Assim caminha a humanidade

 

Sentenciou o poeta: “assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade”, deparamo-nos com situações e circunstâncias que exigem entrarmos em estado de alerta. Nem tudo deve ocupar nossos pensamentos, uma vez que muitas coisas não passam de modismos, sem quaisquer decorrências mais graves. Outras devem pautar nossas reflexões, por colocarem em risco o futuro dos valores e da própria civilização.

Não podemos imaginar que seja normal a forma como as crianças estão sendo tratadas pela sociedade do nosso tempo. Há um verdadeiro ódio a elas. Habituamo-nos a ver nos comerciais postagens imorais anunciando que em determinado hotel, restaurante ou casa para alugar não são admitidas crianças. À mesma medida crescem os anúncios em todos os lugares públicos que frequentamos placas indicando “pet friendly”. Ou seja, preferimos animais às crianças.

Nada contra os animais, são também criaturas amadas por Deus. São Francisco bem nos ensinou isso. Entretanto, não podemos nos omitir aos questionamentos que nos interrogam sobre o que nos leva a preferir ter animais e tolerá-los sendo tão gentis e carinhosos com eles e, na mesma medida, tão intolerantes e agressivos com os membros de nossa própria espécie, que ainda não podem se defender.

Pedofobia é o neologismo criado para indicar este momento doloroso da história em que vemos as crianças desvalorizadas, muitas delas submetidas à miséria e à possibilidade de não terem futuro, exploradas e expostas nas sinaleiras em busca de alguns trocados, sem que ninguém as veja- são invisíveis socialmente. Pergunto-me frequentemente: ninguém as viu? Não teria passado por ali nenhuma autoridade responsável por protegê-las? Precisamos trazer à tona as circunstâncias que levam um país inteiro a deixar as novas gerações à mercê da sorte, mesmo com tantos aparatos jurídicos e com tanto dinheiro perdido pelos ralos da corrupção. Como pode, por exemplo, a maior parte das escolas públicas não disporem de condições mínimas de recursos para receber os alunos num dia de calor insuportável necessitando suspender as aulas? Isso para citar apenas um exemplo.

É matéria para hoje! Não podemos adiar mais a audácia profética de chamar a atenção das autoridades, a quem cabe o dever de proteger as crianças. Ao mesmo tempo, precisamos assumir nosso papel como cidadãos e cristãos, promovendo uma revolução nos valores instituídos pelo mercado que proclama aos quatro ventos que a nova onda é ter muitos pets consumindo produtos relativos a eles e esquecer-nos de prover as novas gerações com o devido cuidado e afeto. Faz-se necessário discutir, conversar, refletir sobre o cuidado que estamos tendo com as novas gerações, se desejamos realmente dar continuidade à história humana ou estamos dispostos a correr o risco estarmos vendo o advento dos últimos exemplares de nossa espécie. O tema está posto. Espero que tenhamos honestidade intelectual para discutir e encontrar caminhos o quanto antes. Um povo que não cuida de suas crianças está fadado a desaparecer.

 

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade