Assunção de Nossa Senhora: caminha como Maria, na Igreja
Na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora nós te convidamos a contemplar a esperança que brota da Ressurreição do Senhor, refletido em Maria, na Igreja e na nossa missão.
No início da passagem do Evangelho que nos é proposto neste domingo, aparece uma ação de Maria que é consequência da sua resposta a Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Desta resposta, vem a ação que é um caminhar: “Naqueles dias, Maria levantou-se e foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá” (Lc 2,39). A expressão ‘Maria levantou-se’ (αναστασα δε μαριαμ) revela a ação de quem escuta a Palavra e a acolhe com disposição. A ‘assunção’ começa no caminho daqueles que escutam o Senhor e são conduzidos pela Palavra, como nos diz na oração da Liturgia deste domingo: “viver atentos às coisas do alto”.
Este ‘levantar-se’ a partir será uma característica no mistério de Cristo. Na cura da sogra de Pedro, Jesus “inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se (αναστασα) logo, servia-os” (Lc 4,39); na cura do paralítico, Jesus proclama: “Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa. E, levantando-se (αναστας) logo diante deles, e tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa, glorificando a Deus” (Lc 5,24-25). Esta mesma expressão encontramos quando Jesus chama Mateus: “E, depois disto, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se (αναστας) e o seguiu” (Lc 5,27-28). O mesmo podemos constatar na conversão de Saulo: “E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se (και αναστας), foi batizado” (Atos 9,17-18). Estes exemplos nos revelam que a ‘assunção’, a ‘glória’, começa quando acolhemos a Palavra viva em nossa existência e nos deixamos conduzir e modelar pela força e pelo poder de Deus.
O que acontece na vida de Maria, no ministério de Cristo e na vida da Igreja, nos aponta o nosso caminho eclesial ao celebrarmos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Na força da Palavra de Deus, nos tornamos homens e mulheres de fé. Nossa fé brota da Ressurreição de Cristo, como nos ensina o Apóstolo Paulo: “Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição (αναστασις) dos mortos” (1Cor 15,21). É professando nossa fé na ressurreição (αναστασις), que o Senhor transforma nossa existência. Nossa vida cristã nasce do batismo, que é um levantar-se, uma ressurreição (αναστασις). Esta experiência acolhemos nos sacramentos da iniciação à vida cristã, quando somos configurados ao Cristo Servo e Senhor; nos sacramentos de cura, quando somos resgatados para retomar o caminho do seguimento; e nos sacramentos do serviço, quando somos enviados em missão, na família e na Igreja.
Como entender então a relação Maria e a Igreja? Lançamos mão de um sermão de Santo Agostinho: “Santa Maria, feliz Maria! Contudo, a Igreja é maior que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é porção da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas membro do corpo total. Se ela pertence ao corpo total, logo é maior o corpo que o membro. A cabeça é o Senhor; e o Cristo total, é a cabeça e o corpo. Que direi? Temos cabeça divina, temos Deus por cabeça!” (Dos Sermões de Santo Agostinho).
A Solenidade da Assunção, nos revela que é na Igreja que descobrimos a alegria da comunhão, antecipação da glória da ‘comunhão dos santos’; é na Igreja que testemunhamos a vida nova da fraternidade; é na Igreja que acolhemos os dons e os carismas que revelam a unidade do Espírito e a diversidade de serviços e ministérios. Por isso que, celebramos com esperança o futuro da Igreja, que contemplamos na glória de Maria. Este futuro glorioso, se realiza de muitas formas no presente eclesial: neste domingo agradecendo o dom da vocação à Vida Religiosa. É uma riqueza de dons apostólicos e contemplativos, em homens e mulheres, que pela consagração, testemunham a beleza da Vida Cristã.
Dom Carlos Romulo – Bispo da Diocese de Montenegro