Bem-Estar na Escola

Em breve inicia-se o ciclo de mais um ano letivo, com seus desafios e encantos. O tempo de deserto e solidão que circunda a escola durante um mês e meio fica para trás e tudo recobra a energia, o barulho e a alegria dos passos apressados de estudantes e educadores. É a vida se recompondo e vestindo-se com as cores da esperança, do futuro. Como espaço democrático, a escola é por natureza acolhedora num constante empenho, a fim de que todos possam sentir-se bem.

Nos últimos anos o panorama das escolas tem mudado. E muito! Gestores atualizados sabem que não é suficiente pensar um bom currículo, boas metodologias e ter um corpo docente qualificado para que haja boa educação. É fundamental criar um ambiente colaborativo, harmonioso, instigante e saudável adequado ao desenvolvimento de estudantes e ao equilíbrio de tantos quantos transitam por esse lugar.

O mundo todo navega em direção à compreensão da integralidade do ser humano. Altos índices de desempenho acadêmico não necessariamente indicam padrões superiores de realização e felicidade. Daí a importância de garantir aquele, sem esquecer desta. Não há lógica em preparar pessoas com prioridade em competências cognitivas se não há um trabalho alinhado, com o objetivo de trabalhar o emocional.

Desde 2014, pesquisadores e estudiosos têm abordado essa questão em escolas do Canadá, onde despontam experiências que podem ajudar-nos a pensar caminhos também para a nossa educação. Levantam-se as perguntas: As pessoas se sentem bem em nossas escolas? É possível verificar em alunos e professores a alegria de compartilhar o mesmo espaço durante horas a fio, ao longo de duzentos dias letivos?

O livro recém publicado pela Editora Penso, intitulado “Bem-estar nas escolas: três forças que motivarão seus alunos em um mundo instável” estabelece a relação existente entre sucesso e bem-estar. Os autores explicitam que ambos nem sempre caminham de mãos dadas. Costumamos pensar que aprender e ser feliz não são coisas conciliáveis. Entretanto, num mundo que o bem-estar tem cada vez mais lugar ao sol, também os educadores podem qualificar os processos educativos desenvolvendo atividades que permitam aos estudantes uma boa aprendizagem aliada ao bem viver.

Segundo os autores, em suas pesquisas com educadores, há três abordagens a serem consideradas quando se fala em bem-estar na escola: 1) O aumento do bem-estar é um pré-requisito para o desempenho. Ou seja, quem não está bem afetivamente, dificilmente conseguirá bons índices de desempenho escolar. 2) O desempenho acadêmico é essencial para o bem-estar. Como alguém poderá sentir-se realizado tendo fracassado? Sair-se bem é motivo de satisfação e alegria. 3) O bem-estar tem valor intrínseco.  O equilíbrio humano é evidenciado pela capacidade de uma pessoa sentir-se bem e, ao mesmo tempo, permitir que os que estão próximos a ela sintam-se confortáveis e felizes.

Tudo na dose certa! Ter presente que a escola não é um clube de férias para que se faça o que bem se entende, mas também não é um campo de concentração no qual as pessoas sintam-se privadas de sua dignidade, de suas preferências e das qualidades que carregam como seres humanos é fundamental. Passadas as décadas em que se  imaginavam soluções mágicas para o problema da educação no Brasil, somos agora convidados a pensar o mais elementar, o basilar do que nos envolve e nos aproxima: a dimensão humana. Tratar-nos como seres humanos, acolhermo-nos em nossas fragilidades, permitir-nos escutar os outros em suas dúvidas e angústias, sem julgamentos e sem condenações apressada são  iniciativas, que não dependem de recursos financeiros ou de outra natureza, dependem tão somente de ousarmos fazer uma educação diferente, mais humana e humanizadora. Mãos à obra! O futuro está logo ali. Bom começo de ano e que nossas escolas sejam, todas elas, espaços de bem-estar, alegria e acolhida.

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade