Caminhar juntos
Para ir na escola primária entre os anos de 1962 a 1966, eu tinha que caminhar três quilômetros. Nos raros dias em que fiz o percurso sozinho, os três quilômetros me pareciam intermináveis. Acompanhado, porém, por outras crianças, a distância era vencida sem que a gente visse o tempo passar. O mesmo sentimento me aflorou quando, já na adolescência, formávamos um grupo de moças e rapazes para percorrer os cinco quilômetros que nos separavam de Capitão, onde íamos à missa aos domingos. Qual é a razão de eu me lembrar disso, neste momento?
É que o Papa Francisco está convidando a mim e a todos os católicos a participarmos do Sínodo dos Bispos que vai acontecer na cidade de Roma, em outubro de 2023. O assunto que o Papa quer conversar conosco é “Sinodalidade”. Mas que palavrão é esse?
Sinodalidade faz referência a “sínodo”. Sínodo é a composição das palavras gregas: Syn (junto) mais hodós (caminho). Com isso deduzimos que a palavra “Sínodo” significa “fazer o caminho juntos”, ou, então, “caminhar juntos”. Quando o Papa nos convida a participarmos do Sínodo, ele está nos convidando a “caminharmos junto com ele”. E, quando nos convida a conversarmos sobre sinodalidade ele nos pede que conversemos sobre “o caminhar conjunto da Igreja e da humanidade”.
Uma das coisas que mais me emociona quando visito uma pessoa e começo a me despedir para ir embora, é escutar dela: “Vou te acompanhar até a metade do caminho”. Ou, quando vou visitar alguém que mora num lugar mais distante, ser surpreendido com as palavras: “Vou te acompanhar até a rodoviária”. Agora a agradável surpresa veio do Papa Francisco que pediu para caminhar conosco até o Sínodo de 2023. Como é que ele quer fazer isso?
Nos primeiros meses em que estive no Seminário de Arroio do Meio, seguidas vezes eu parava para imaginar o que os pais estavam fazendo em casa, naquela hora. Imaginava eles limpando a roça, tratando os animais, tirando leite das vacas ou tomando chimarrão debaixo de uma árvore. Durante os mais intensos meses de isolamento social por causa da pandemia do Covid-19 em 2020, tomei muito chimarrão com amigos e familiares sem que ninguém de nós tivesse necessidade de sair de casa. Combinávamos um horário e, na hora marcada, cada um abria a câmara do seu celular e fazíamos a nossa roda de chimarrão. Algo parecido o Papa Francisco está querendo fazer conosco a partir do dia 17 de outubro. Enquanto ele segue em Roma ou fazendo as suas visitas pastorais, ele continuará a alimentar as nossas conversas sobre “sinodalidade”. Ele vai querer saber como é que estão as nossas comunidades e quem são as pessoas que as lideram? Como é que nós estamos cuidando das pessoas mais pobres e sofridas? Como é que as lideranças da Diocese e das paróquias estão prestando atenção aos clamores do povo? O que precisa ser mudado na Igreja para que ela seja, verdadeiramente, “o povo de Deus a caminho”?
Por que o Papa Francisco está fazendo esta proposta? Simplesmente porque ele acredita que o Espírito Santo fala através das pessoas. Por isso, a insistência em, dentro do possível, “escutar a todos” e “dar a palavra a todos”. Criar um ambiente favorável para que as pessoas falem com amor e não com ódio e rancor. “Ter coragem para falar e ter humildade para escutar”.
Numa época tão marcadamente individualista e em que é tão difícil de “caminhar juntos”, o convite do Papa vem em boa hora. É um convite dirigido primeiramente para as comunidades cristãs, mas também para todas as pessoas que moram num mesmo bairro, numa mesma cidade, num mesmo país e num mesmo Planeta. Caminhando juntos podemos ter a certeza de que o Espírito de Deus está conosco e a salvação chegará mais rápido para todos.
Pe. Roque Hammes – Coordenador de Pastoral de Santa Cruz do Sul
roquesham@gmail.com