Comunhão e fraternidade à luz do Evangelho

Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas iniciamos na Igreja, comunidade de fé, o tempo da Quaresma, em preparação à celebração da Páscoa do Senhor Jesus. Por isso, convido paternalmente os queridos irmãos e irmãs, para percorrermos juntos um caminho marcado pela humildade, a penitência, o arrependimento e a conversão interior, que nos levam a fortalecermos a nossa comunhão com o Senhor e com os irmãos.

Deixemos o Senhor tocar o nosso coração, com seu amor e a sua misericórdia de Pai que nos ama, mesmo se, em certos momentos da vida, nos sentimos envolvidos pelas nossas fragilidades humanas e submersos pelas águas do dilúvio, o coração misericordioso de Deus, leva-o a estender as mãos para nos resgatar para a vida.

O tempo da Quaresma, que se inicia com a celebração da Quarta-feira de Cinzas, é marcado também pelo lançamento da “Campanha da Fraternidade”, na Igreja Católica no Brasil. E a cada ano, a Campanha da Fraternidade aborda um tema, que toca a vida milhares de irmãos e irmãs da nossa Igreja Católica, mas também das Igrejas Cristãs, de outras denominações religiosas e até dos que se dizem ateus ou sem religião.

Este ano, a Campanha da Fraternidade é Ecumênica, isto é, conta com a participação de algumas Igrejas Cristãs, que fazem parte do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil). Cada Campanha da Fraternidade tem um tema e um lema. O tema neste ano é: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor; e o lema: “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a).

O nosso querido Papa Francisco, na Carta Encíclica Fratelli Tutti, que trata sobre a Fraternidade e a Amizade Social, chama a nossa atenção sobre a realidade dos conflitos locais, que são instrumentalizados e fazem crescer nas pessoas o desinteresse pelo bem comum, que constrói e fortalece o sentido de pertença a uma comunidade. Estamos à mercê de uma “cultura que unifica o mundo, mas divide as pessoas e as nações, porque ‘a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos’. Encontramo-nos mais sozinhos do que nunca neste mundo massificado, que privilegia os interesses individuais e debilita a dimensão comunitária da existência… onde os poderes econômicos transnacionais aplicam o lema ‘divide e reinarás‘”.

Esta divisão, infelizmente se manifesta também na comunidade de fé, onde pessoas e grupos de “fariseus” de plantão têm se manifestado contra o Papa Francisco e contra a Campanha da Fraternidade, mostrando mais interesse em construir muros, que dividem e segregam,do que pontes que nos aproximam como irmãos, como Povo de Deus a caminho da casa do Pai, às vezes ferido e apedrejado, mas não desanimado, porque o Senhor é o Pastor que nos conduz.

Que o Deus da vida, da justiça e do amor, nos ajude com a sua graça, para que, neste tempo da Quaresma, através desta Campanha da Fraternidade Ecumênica, possamos testemunhar a beleza do diálogo como compromisso de amor, criando pontes que unem em vez de muros que separam e geram indiferença e ódio.

Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul e Presidente do Regional Sul 3 da CNBB