Comunicação que cria comunhão
As redes sociais são fonte de comunhão ou potencializam o individualismo e a divisão entre as pessoas? De fato, esta questão foi abordada pelo Papa Francisco, na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, no dia 02 de junho passado. As possibilidades que a internet oferece para o ser humano são imensas: o acesso e compartilhamento do saber, superação de distâncias, que auxiliam, sem dúvidas, para a humanidade crescer. A quarta revolução tem a marca da informática.
Porém, é comum vermos como as redes sociais podem auxiliar na formação de pessoas isoladas, levando a uma visão individualista da vida. Alguns afirmam que este isolamento individualista sempre existiu, mas o certo é que com as redes sociais criou-se um ambiente favorável para o ser humano salientar seu traço individual. A modernidade, com a crise das instituições, a visão da centralidade do humano em relação ao divino, a liberdade de expressão, e agora, a facilidade das redes sociais, permitiu que todos pudessem falar livremente. Isto tem algo de positivo, pois possibilitou a democratização da expressão do pensamento. O bom disso é que todos têm acesso, todos podem opinar (ao menos para aqueles que têm condições de acessar a rede). Seria uma premissa favorável para a construção da “cultura do encontro” e da “cultura do diálogo” (Francisco). Infelizmente, o que assistimos é um fechamento sobre si mesmo, um isolamento individualista numa “comunidade virtual” com aqueles com os quais compartilho as mesmas opiniões a nível de valores humanos, sociais, políticos, religiosos, econômicos e culturais. O que vemos é que temos, como nunca, dificuldade de dialogar, de aceitar sem preconceitos as posições de quem pensa diferente. Já nos armamos de antemão ou, para não termos problemas, estas pessoas já são excluídas dos contatos. Então, a verdade é a minha verdade ou, no máximo, a nossa verdade, do grupo com quem me afino. Sim, o narcisismo está se acentuando com nossas redes sociais e meus amigos virtuais são uma extensão de mim.
A dificuldade de diálogo se torna mais aguçada com uma apologia ao uso de uma linguagem ofensiva e desrespeitosa. Todos, sem exceção, podem sofrer uma “lapidação” por meio das redes até pelas constantes fake news, ou então, sem oferecer a possibilidade de defesa. A impessoalidade dos meios eletrônicos facilita esta postura, que, sem dúvidas, degrada o ser humano. Por que devo conceber o outro como um potencial concorrente? Aquilo que o outro é, suas posturas e visão de mundo, não são uma agressão à minha vida. Podemos caminhar juntos e nos conhecermos, pois, com certeza aprenderemos um do outro.
Diante disso, a fé cristã, recorda a diferenciação entre o indivíduo e a pessoa. Somos pessoas, porque nossa identidade e missão se dão a partir de uma relação. A comunhão não é uma opção, mas um pressuposto antropológico. Sempre somos em relação, desde a fundamental relação com Deus, fonte e origem de todas as outras relações humanas. Sem a alteridade não somos humanos. A verdade nunca pode ser somente a minha verdade, mas resultado da comunhão, do respeito, da acolhida e do diálogo. Mais ainda porque tudo para nós, cristãos, tem seu fundamento na Santíssima Trindade, comunhão de amor, acolhida recíproca e missão conjunta. “Só sou verdadeiramente humano, verdadeiramente pessoal, se me relacionar com os outros” (Papa Francisco).
+ Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta