Conversão e Compaixão: propostas para a quaresma
Estamos celebrando o 6º Domingo do Tempo Comum e a liturgia nos desperta para o sentimento de compaixão, mas também nos introduz no espírito da quaresma que se aproxima.
Nas opções da primeira leitura vemos: o Livro do Levítico coloca nas mãos de Araão e de seus sacerdotes a função de declarar impuro todo homem acometido pela lepra, colocando-o em isolamento fora do acampamento durante a doença. Na segunda opção de leitura, do Segundo Livro dos Reis, Naamã, o sírio, acometido pela doença, foi ao encontro de Eliseu, conhecido como o “homem de Deus” que o mandou mergulhar sete vezes no Rio Jordão e ficou curado. A lei excluía os doentes, mas a bondade de Deus, manifestada na ação do profeta, os tornava puros.
No Evangelho, esta cena se repete. O leproso, excluído da comunidade, burla a lei para se aproximar de Jesus. Diante de sua súplica cheia de fé, “Se queres, tens o poder de curar-me”. “Jesus cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele (o que era proibido) e disse: ‘Eu quero, fica curado!’” E o homem ficou curado. Com isso, ele volta à convivência social libertado não só da doença, mas também da exclusão, da discriminação e da rejeição por parte dos seus. Em Jesus, a cura significa libertação e vida nova.
Ao mesmo tempo em que trazemos esta mensagem da Palavra de Deus, plena de sentido e indicações para nossa vida cristã, queremos recordar que na próxima quarta-feira iniciaremos o tempo da quaresma, com o rito das cinzas, dia de jejum e abstinência de carne como na sexta-feira santa, segundo nos propõe a Igreja. Com isso, abrimos o caminho para este tempo de conversão, de saída de nós mesmos, necessária por causa de nosso egoísmo e nossa indiferença, pelo nosso individualismo e fechamento, para a prática do amor e compromisso cristão com a vida e os valores que nos remetem ao imperativo de Cristo: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, bem como ao sentimento de compaixão nas nossas relações humanas com os mais sofredores, conforme a liturgia deste domingo.
A quaresma é o tempo para reforçarmos em nós a fé no Cristo Ressuscitado, pois Ele venceu o pecado e a morte. Com Ele, também nós venceremos e renovaremos os laços do amor, da amizade, da fraternidade, unindo nossos corações num só sentimento e num só desejo: alcançar a salvação.
A Igreja no Brasil também vive neste tempo quaresmal a Campanha da Fraternidade que neste ano é Ecumênica e traz como tema: “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de amor” e como lema: “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14). Ela pretende unir todas as forças cristãs para alcançar o bem maior em vista de todos. Ajuda-nos, sobretudo, a viver os gestos fundamentais deste tempo litúrgico que são a oração, o jejum e a esmola ou caridade, superando as diferenças e exclusões sociais para caminhar na unidade.
Portanto, vamos viver juntos este período, colocando em prática as atitudes que a quaresma nos convida a ter, ou seja: maior intensidade e intimidade na oração com o Senhor; maior esforço na prática da penitência como sinal de sincera conversão e melhora em nossas relações com os irmãos e irmãs mais empobrecidos pela prática da caridade. Com isso, ao celebrarmos a Páscoa, estaremos vivendo a vida nova no Cristo Ressuscitado e colaborando na construção de uma nova sociedade mais humana e fundada no amor, pois, como diz o papa Francisco: “Se já não somos mais capazes de perceber a desumana dor ao nosso lado, também nós nos tornamos desumanizados”.
Com a confiança do leproso do Evangelho, supliquemos a Jesus que tenha compaixão de nós e nos cure de todos os males nos concedendo a graça de uma sincera conversão. Amém!
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim