Cuidar dos nossos dias nesta terra
Deus sempre nos procura. “O reino dos Céus pode comparar-se a um proprietário que saiu muito cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha.” Assim nos diz o Evangelho deste Domingo (Mateus 20,1-16) referindo-se a um velho costume dos povos e que ainda hoje vigora em algumas terras: Quem não tinha ocupação laboral e desejava tê-la, dirigia-se a uma praça já conhecida e ali aguardava quem o contratasse para mais um dia de trabalho.
Para nos ensinar que nos procura continuamente, desafiando-nos a trabalhar na vinha da nossa salvação, Jesus conta-nos a Parábola dos operários da vinha na qual se refere este costume.
Na verdade, o Senhor chama-nos continuamente a mudar de vida, a tomar a sério a nossa salvação, não adiando continuamente este problema fundamental e urgente. Ouvimos a sua Palavra e muitas vezes enganamo-nos a nós mesmos, pensando que aquele convite que ouvimos não é para nós, mas para os outros, porque eles é que precisam de se converter. Tantas vezes, Deus inspira-nos diante dos acontecimentos — a morte de um familiar ou de um amigo, uma catástrofe, uma boa notícia — e nós, sem compreendermos, procuramos afastar este pensamento, porque o achamos importuno. Ele sempre nos chama, enviando-nos pensamentos que nos removem, durante o trabalho, no descanso da noite, ou mesmo quando estamos a caminho.
No texto do Evangelho, o pai de família voltou até ao fim do dia praticamente, para contratar operários que trabalhassem na sua vinha. Não podemos pensar que não é preciso ir agora ao encontro de Deus, deixando para ir só no final de nossa vida, porque não sabemos quando será o final, o último momento. Alguns, no final, ainda têm tempo de se preparar, mas muitos recebem a chamada de Deus quando menos pensam. Um santo dos nossos dias, São Josemaría, dizia que precisamos de vencer a última batalha; mas como não sabemos qual é a última, temos de as vencer todas.
A isto nos convida o Senhor no Evangelho: “Na hora em que menos pensardes, virá o Filho do Homem. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” (Mateus 25, 13).
O que é preciso, para viver bem cada dia de nossa vida? Assim como um bom profissional em qualquer área do trabalho humano, será preciso:
- Lançar mãos dos instrumentos de trabalho. Significa frequentar os sacramentos e fazer oração.
- Obedecer às indicações que de quem dirige o trabalho. Nenhum trabalhador ganha a vida fazendo o que lhe vem à cabeça, mas integrando o seu esforço num plano: cavar a vinha, podá-la, fazer a vindima, etc. Para sabermos o que temos de fazer precisamos ouvir a Palavra de Deus, escutando-a na Liturgia, lendo a Sagrada Escritura em casa, frequentando meios de formação, etc.
- Trabalhar pontualmente. Como regra, o demônio não nos tenta a dizer “não”, quando recebemos o convite para nos santificarmos. Leva-nos a dizer “depois”, adiando sempre: “quando eu for mais velho e tiver passado o ardor das paixões”; “quando não parecer mal deixar esta má companhia”, “quando me reformar, vou ter mais tempo para frequentar os sacramentos rezar”. Ele espera com paciência que chegue o momento em que já não possamos adiar mais, nem fazer o que devíamos. É preciso reagir a este tipo de pensamento. Assim, cada dia deve ser um dia de esforço e de colaboração com a necessária Graça de Deus.
Desta maneira seremos bons operários da vinha do Senhor. A obra de nossa santificação é obra dele.
Dom Antônio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen