Despedida sem abandono
Dom Remídio José Bohn – Bispo de Cachoeira do Sul
Estamos no último domingo antes da Ascensão, que encerra a presença humana de Cristo na terra. Jesus está se despedindo de seus discípulos. Ele os vê tristes e abatidos. Logo, não mais estarão com ele. Quem poderá preencher seu vazio? Até agora, foi ele quem cuidou deles, defendeu-os dos escribas e fariseus, sustentou a fé fraca e vacilante deles e revelou-lhes a verdade de Deus.
Em seu discurso da despedida segundo o evangelista S. João (Jo 14, 23-29), Jesus anima os discípulos, declarando que não os deixará órfãos no mundo e prometendo-lhes o envio de um “defensor”, de um “intercessor”, que irá animar a comunidade cristã e conduzi-la ao longo da sua história. Ele lhes fala de uma presença nova que os envolverá e os fará viver, pois atingirá o mais íntimo de seu ser. Não os esquecerá. Virá e ficará com eles.
Jesus oferece a eles o “outro Advogado”, que permanecerá como para sempre ao seu lado. Jesus o chama de Paráclito: em grego a palavra Paráclito significa aquele que defende, que auxilia, que infunde ânimo, que alenta.
Portanto, os discípulos não ficarão abandonados. Não sentirão sua ausência. O Pai lhes enviará o Espírito Santo que os defenderá do risco de desviarem-se dele.
Além do mais, “Ele vos ensinará e recordará tudo o que vos tenho dito.” O Espírito lhes “ensinará” a compreender melhor tudo aquilo que ele lhes ensinou. Ajudá-los-á a aprofundar, cada vez mais, a sua Boa Notícia. Recordar-lhes-á aquilo que escutaram. Educá-los-á em seu estilo de vida.
O Espírito Santo que Jesus envia não é algo sensacionalista, como às vezes se imagina. Jesus envia o Espírito Santo para que os fiéis continuem sua obra no mundo, livrando-o de qualquer corrupção. Pois o lugar de Jesus “na carne” era limitado, no tempo e no espaço, e os fiéis são chamados a ampliar, com a força do Espírito-Paráclito, a sua obra pelo mundo afora.
Assim entendemos o batismo não como associação de pessoas em redor do rótulo “Jesus Cristo”, mas como efetivos participantes em sua vida e continuadores de sua missão neste mundo. A confirmação do batismo pela imposição das mãos e a unção do bispo, sucessor dos apóstolos, realiza o dom do Espírito Santo.
Este exemplo nós aprendemos dos primeiros cristãos. Em Atos dos Apóstolos (8,14-15), os apóstolos de Jerusalém vão impor as mãos aos batizados da Samaria para lhes conferir o dom do Espírito Santo.