Deus amor: Santíssima Trindade

A fé cristã professa um Deus Uno e Trino. É uma questão existencial da vida cristã. E, por isso, não é um problema teórico, uma questão apenas para ser pesquisada em ambientes acadêmicos e teológicos. É uma fé eminentemente prática e se estende a todos os setores da vida cristã.

Deus sempre será mistério para os humanos, pois no dia em Deus não for mais mistério deixará de ser Deus. Ficará reduzido ao tamanho do homem que é finito, temporal e espacial. Por isso para se aproximar de Deus é preciso humildade. Maria, em seu cântico – Magnificat -, afirma que “Deus exalta os humildes”. Com esta postura é possível acolher a revelação divina e crescer no conhecimento de Deus que usou e usa tantos meios para se fazer conhecer. O homem é capaz de Deus e de conhecê-lo como nos ensina o catecismo.

A liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade nos faz rezar o que cremos, pois Deus revela o seu “inefável mistério”, como diz a oração da coleta. Mais do que explicar racionalmente a fé, nos faz louvar, ouvir e adorar a Deus. Toda liturgia eucarística é dirigida a Deus Pai, por Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo.

Para recordar, cito literalmente, algumas partes que sublinham o sentido da presente solenidade. Em primeiro lugar a comunidade está reunida: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. O prefácio recorda: “Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças (…) Senhor, Pai santo, Deus eterno (…). Com vosso filho único e o Espírito Santo sois um só Deus e um só Senhor. Não uma única pessoa, mas três pessoas num só Deus. Tudo o que revelastes e nós cremos a respeito de vossa glória atribuímos igualmente ao Filho e ao Espírito Santo”. E a Prece Eucarística, ao final, proclama: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre”.

Porém, a liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade não se fixa tanto no Mistério – um só Deus em três Pessoas -, mas aponta para a realidade de amor que está contida neste primeiro e supremo Mistério da nossa fé. “O Pai e o Filho e o Espírito Santo são um só, porque são amor, e o amor é a força vivificadora absoluta, a unidade criada pelo amor é mais unidade do que unidade puramente física. O Pai doa tudo ao Filho; o Filho recebe tudo do Pai, com reconhecimento; e o Espírito Santo é como que o fruto deste amor recíproco do Pai e do Filho”, reflete Bento XVI numa homilia. Os textos bíblicos da missa apontam nesta direção.

Moisés grita que “Deus é misericordioso e clemente, paciente e rico em bondade e fiel” (Êxodo 34,6). E no Evangelho (João 3,16-17) esta revelação fica completa: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.

A profissão de fé neste Deus, portanto é uma questão vital. Moisés suplica: “Senhor, se é verdade que gozo do teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nosso pecados e acolhe-nos como propriedade tua”. (Ex 34,9). E São Paulo deseja: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13).

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo