Diário de um padre
São por volta de 27 mil padres atuando nas 277 arquidioceses e dioceses do Brasil. A imensa maioria atua de maneira silenciosa e quase anônima em nossas paróquias. Fazem-nos lembrar de São João Maria Vianney, padroeiro dos padres, que fazemos memória no dia 04 de agosto. Porém, quero falar de nosso pequeno rebanho, nosso presbitério da Diocese de Cruz Alta, formado por padres diocesanos e religiosos. São os nossos padres! Portadores de muitas qualidades e, também, dificuldades. São os padres mais próximos de nossa vida.
Fico pensando na história dos jovens que decidem servir a Jesus Cristo, no seu povo. Como não recordar também da minha história? Mas, já paramos para pensar na grandeza desta vocação? Ninguém escolhe o sacerdócio porque não tem condições de casar ou de ter uma profissão. Escolhe ser padre por causa de um dom maior, de grandes ideais. A palavra de Deus a Moisés, “Vai eu estou contigo” (Ex 3,12) continua muito atual. Seu evangelho encanta os corações, abre horizontes, pede um amor maior, nem sempre explicável e compreensível humanamente, como disse Pedro a Jesus: “Em atenção à tua Palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5). Ser padre é uma questão de fé.
Depois vem a ordenação presbiteral, em que o humano seminarista é assumido, configurado a Jesus Cristo pela consagração, para ser na Igreja e no mundo um sinal de sua presença e atuação por meio do anúncio da Palavra, dos sacramentos e da organização pastoral. Como Jesus, o padre sabe que sua oração deve ser cotidiana. Nela, como Jesus diante do Pai, o sacerdote se reconhece como chamado, amado e enviado. Não se trata de rezar para pedir algo, mas para simplesmente ser o que Deus nos chama a ser. Faz parte da identidade sacerdotal. Mas, também, a oração do padre é com o povo e para o povo. Cheia de intenções e intercessões. É muito salutar pedir ao teu padre para rezar pelas tuas necessidades, pelos que mais precisam. Faz parte de nossa missão. Assim como Jesus, o padre de nossa paróquia vai onde está o povo. Sua missão continua atualíssima. Quantas pessoas precisam ser acompanhadas em suas dificuldades ou no seu caminho, na busca do sentido da vida. Nós temos uma missão especial, acompanhar os passos de quem está buscando, apresentando Jesus Cristo, o Caminho.
Quando se tornam idosos continuam a viver seu ministério, até que as forças físicas lhes permite. Isto porque ser padre é uma identidade de vida, nunca uma profissão. Como é belo ver um padre que já completou seus 50, 60 ou mais anos de sacerdócio e ainda procura servir, segundo suas possibilidades. Num dia, ao visitar um padre idoso de nossa Diocese, que já faleceu, acolheu-me com esta frase: “O senhor veio me dar uma paróquia?” Era o Pe. Antônio Fabris, que logo após iria para o encontro definitivo com o Bom Pastor. Foi padre até o fim!
Vale recordar que o padre continua a ser humano. Ele carrega consigo sua história pessoal. Tem qualidades e defeitos. Sofrem com suas doenças. Talvez nem sempre esteja sorridente e bem quando vamos ao encontro dele. Ele continua um ser humano, que se estressa, que precisa de descanso e lazer, que sofre com as dores das pessoas de sua paróquia e as dores do mundo. Recordo-me do padre do romance Diário de um pároco de aldeia, de George Bernanos, que relata a vida e o sofrimento de um padre que se sentia incapaz e doente, mas confiava que sua missão era maior, de Deus. No final, este padre proclama a grandeza de Deus: “Tudo é graça”. A sua origem e missão faz sentir-se pequeno e até inadequado. É sempre maior do que sabemos e realizamos.
Parabenizo nossos padres, nossa família presbiteral, no dia do padre, primeiro domingo de agosto. Continuem a reza por nós, que nós rezamos por vocês.
+ Dom Adelar Baruffi – Bispo da Diocese de Cruz Alta