Discípulos do Crucificado-Ressuscitado

Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta

A celebração do Tríduo Pascal, da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, preparada com empenho no tempo quaresmal, toca os pontos centrais de nossa vida cristã. A Páscoa permite que compreendamos quem é Jesus Cristo e quem somos nós, seus seguidores.

O grande anúncio da ressurreição tem sua importância não somente pela sua absoluta novidade mas, também, porque aquele que agora vive é o mesmo que foi injustamente condenado, morto como um maldito no madeiro, “desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos”(Is 53,3). Após as aparições do Ressuscitado, os discípulos compreenderam, como Pedro que “Deus constituiu Senhor e Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes” (At 2, 36). O homem de Nazaré, que falou com autoridade e fez prodígios e sinais, foi entregue nas mãos dos poderosos de Israel e condenado à morte na cruz. Mas este mesmo Jesus, crucificado, Deus o ressuscitou e o constituiu Senhor e Cristo. Não somente a ressurreição, em si, foi a grande notícia, mas o fato de ter sido exatamente aquele que fora crucificado. A ressurreição manifesta que Jesus e Senhor estão unidos como sujeito e predicado, pois a humilhado foi exaltado. Ao se apresentar, como ressuscitado, logo quis fazer-se reconhecer pelos seus. “Por que vocês estão perturbados e por que o coração de vocês está cheio de dúvidas? Vejam minhas mãos e o meus pés: sou eu mesmo” (Lc 24, 38-39). Como ressuscitado, traz consigo as marcas da sua história de fidelidade e, também,do pecado humano, simbolizado nas chagas que mostra solenemente ao incrédulo Tomé. O acontecimento maravilhoso e inesperado da ressurreição possibilita aos discípulos verdadeira compreensão de Jesus: é o Crucificado-Ressuscitado; o Humilhado-Exaltado. O reconhecimento evidencia, ao mesmo tempo, a continuidade e a novidade do ressuscitado em relação ao abandonado da cruz.

O discípulo de Jesus, de todos os tempos, vive guiado pelo dinamismo da Ressurreição de Cristo, qual “força de vida que penetrou o mundo. […] Esta é a força da ressurreição, e cada evangelizador é um instrumento desse dinamismo” (EG 276). Com os olhos iluminados pela luz da ressurreição, o discípulo compreende o significado das palavras, do estilo de vida e do projeto do Reino de Jesus Cristo. Esta certeza sustenta a fé e move a caridade e torna-o capaz de ser evangelizador. Na Páscoa renovamos nosso batismo e, por isso, comprometemo-nos, mais uma vez neste caminho do amor que se doa até o fim (cf. Jo 13,1). Atualizam-se em cada fiel as palavras de Jesus: “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer produzirá muito fruto” (Jo 12,24).

O convite é que a celebração pascal renove em nós este dinamismo da ressurreição, que faz assumir com coragem, na força do Espírito Santo, a cruz de cada dia, pois uma semente de esperança foi depositada em nossos corações. O cristão não pode fugir da cruz, nem dos crucificados de nossa história, pois tem um horizonte maior diante de si, que a tudo dá sentido, o Pai que ressuscitou o Crucificado, fonte de nossa esperança e de nossa fé. Quando os apóstolos tiveram esta certeza, viveram com fidelidade até a entrega da própria vida através do martírio. É a partir da Páscoa que os discípulos de Jesus de ontem e de hoje compreendem o que é ser cristão.

Desejo que o dinamismo renovador do Ressuscitado encontre eco em cada cristão, em cada família, em nossas comunidades e, assim, “faça novas todas as coisas” (Ap 21,3).

Feliz e abençoada Páscoa do Crucificado-Ressuscitado a todos os diocesanos.

 

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