Emoções da Visita Ad Limina – Encontrar o Papa
O momento mais aguardado da Visita ad Limina, realizada em Roma no mês de maio passado, foi o encontro com o Papa Francisco. Depois de ter recebido os cumprimentos de cada um de nós, ele disse que não queria fazer uma palestra ou discurso, mas que desejava dialogar conosco e ouvir-nos, como deve ser entre irmãos. Disse-nos que esteva aberto a perguntas, inquietações ou questionamentos e até críticas construtivas. Com espírito de rara simplicidade, ofereceu-nos água e indicou até onde ficava o banheiro. Deixou-nos imediatamente num clima espontâneo e familiar, próprio de irmãos no ministério que são responsáveis pela mesma Igreja, em que o Papa é o Sumo Pontífice. É o Papa que nomeia os bispos para as dioceses. A ele prometemos comunhão e fidelidade. A Visita ad Limina é uma verdadeira renovação desta comunhão e fidelidade. Sentimo-nos à vontade para fazer perguntas e ouvíamos atentamente suas respostas claras, cheias de sabedoria e com memória invejável. Tivemos a bela experiência de conviver, por duas horas, com um ser humano de espírito fraterno e de diálogo. Se fica bem falarmos em “irmão bispo”; aqui poderíamos falar em “irmão papa”. Junto ao ser humano com 85 anos emana, com evidência, a presença do espírito divino. Vivemos a sensação de estarmos diante de um “homem de Deus”, um homem sábio e santo que se tornou testemunho de serviço a Deus e ao Povo, com expressão de alegria. Já ao cumprimentá-lo lhe transmitimos as saudações e preces pessoais e de todos/as que estávamos representando e pedimos sua bênção. Seu sorriso acolhedor foi contagiante. Sua primeira mensagem foi a expressão de alegria ao nos receber. Na conversa de grupo que seguiu, os assuntos foram os mais diversos, desde a injusta guerra na Ucrânia até questões pessoais. Não deixou de falar sobre espiritualidade, formação inicial e permanente do clero, documentos emitidos pelo Papa, situação da América Latina, documento de Aparecida, Pacto Global da Educação, etc.
Impressionado por sua atitude de simplicidade e proximidade, sua reflexão lúcida e sábia, com espírito sereno e igualmente firme e convicta, tomei a iniciativa de perguntar-lhe donde ele tirava a força para estas atitudes que testemunham e nos encantam num ministério tão exigente e que também nós queríamos aprender no exercício de nosso ministério. Como resposta o Santo Padre falou da alegria de servir, de valorizar a dignidade de cada pessoa humana, de fortificar essa atitude com a oração, especialmente com a eucaristia, de acolher a todos com amor, desdramatizando as situações, mesmo que muitas vezes sejam bem difíceis. Dentro deste contexto, o Papa Francisco lembrou-nos sua reflexão sobre as quatro proximidades, que nós refletimos na quarta-feira santa, no encontro do clero e na homilia da Missa dos Santos Óleos, em nossa catedral. Quais são estas quatro relações importantes no espírito sinodal, em nossa vida de bispos? 1º. Proximidade com Deus: Recebemos a missão de sermos ‘homens de Deus’, como profetas, sacerdotes e pastores das ovelhas a nós confiadas; 2º. Proximidade como Bispos no exercício de nosso ministério, como responsáveis pelo pastoreio na Igreja, destacando a necessidade de nos ajudarmos uns aos outros; 3º. Proximidade com o clero e consagrados/as, nossas famílias no ministério. Nossa paternidade e fraternidade seja próxima deles; 4º. Proximidade com o Povo de Deus: às vezes, mais na frente para animar e indicar caminhos, mas outras vezes, no meio, para sentir, escutar, conviver e fazermos o caminho juntos, sendo que em outras vezes é preciso estar atrás para cuidar que ninguém se perca ou chamar de volta, quando alguém se desviou do caminho. Que graça ouvi-lo!
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul