És tu o Messias esperado?

“És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” (Mateus 11,2-11). A pergunta de João Batista não é somente dele e nem somente dos seus discípulos. É a pergunta que cada fiel, mais cedo ou mais tarde, deve fazer ao Senhor. O crente se encontra muitas vezes em incertezas quando se trata de interpretar as obras de Deus que se manifestam na sua vida e na história. Os motivos que induzem a não crer no Messias também são muitos e fortes.

As dúvidas necessariamente não são negativas. Elas são um sinal de incompletude e podem ser a estrada correta para orientar à meta. A dúvida pode revelar inteligência, capacidade de colocar perguntas em vista de uma solução. Ela torna-se uma escada para a compreensão e, neste caso, provoca uma melhor compreensão da identidade de Jesus.

Na história da humanidade muitos se apresentaram como salvadores do mundo no lugar de Jesus. “Ele não é o salvador; somos nós”. Foram criados impérios, ditaduras, totalitarismos que mudaram o mundo, mas de modo destruidor. Passado o tempo das promessas dos grandes salvadores permaneceu um grande vazio, muita destruição e sofrimento. Seguramente não eram os salvadores.

A resposta de Jesus a João Batista não é simplesmente sim e não. A descoberta da identidade de Jesus Cristo cada um deve percorrer. A chave de leitura da presença divina não são as perspectivas pessoais, mas a Palavra de Deus. Jesus cita o profeta Isaías: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os pobres são evangelizados”. Os eventos históricos devem ser lidos sob a luz das Escrituras.

A resposta certa está nas ações Jesus. Esta é a sua identidade. Jesus provoca uma mudança profunda, uma revolução sem sangue derramado, sem grandes promessas. Ele é uma luz silenciosa da verdade, da bondade, da atenção a todas as pessoas, especialmente, as mais marginalizadas da sociedade.

Depois de convidar João Batista a olhar o que estava fazendo, Jesus conclui com uma bem-aventurança surpreendente: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim”. Se estava esperando um salvador com outras características, aquelas exaltadas no mundo, era hora de mudar a compreensão. O Messias que chegou é aquele anunciado pelo profeta Isaías. “Não clamará, não gritará, não se ouvirá, lá fora, a sua voz. Não quebrará o caniço encurvado, nem apagará o pavio que ainda fumega, mas com fidelidade promoverá o direito. Não vacilará nem se dobrará” (42,2-4). A bem-aventurança de não se escandalizar é dirigida à geração atual de fiéis. Cada vez que se aproxima o Natal e se faz memória do nascimento na gruta em Belém atualiza-se a compreensão de Messias que as Escrituras revelam.

O terceiro domingo do advento é marcado pela alegria, pois o Natal já está próximo. A alegria se vive também em ambientes aparentemente obscuros. Os cristãos são convidados a não confundir alegria com triunfo, paz com poder, messias com soberano. Somos chamados a nos alegrar com o “estilo de Deus”. O seu estilo, à primeira vista, parece ineficaz e demorado. Porém é um agir como aquele da seiva que penetra as estruturas biológicas das plantas que vem das raízes e perpassa toda planta, sem fazer alarde. A carta de São Tiago 5,7-10 convida a ter paciência e “ficai firmes e fortalecei vossos corações porque a vinda do Senhor está próxima”. Pede aos cristãos a paciência do agricultor que semeia, precisa esperar as chuvas e o tempo para o desenvolvimento da planta para poder colher. Diante da pressa e do desejo de ter tudo e imediatamente, queimando etapas, o Messias nos propõe um outro caminho.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo