Estar em Cristo!

 

Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. A Liturgia deste domingo faz referência a uma das características mais importantes da vida dos cristãos e, também, uma das mais difíceis, que é “estar em Cristo”. O Apóstolo Paulo diz: “Se alguém está em Cristo é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17). Muitos são aqueles que acompanham Jesus de longe e outros somente se aproximam de Jesus nos momentos de dificuldades.

Prezados irmãos e irmãs. Nos Evangelhos seguidamente lemos que “multidões” seguiam Jesus. O Evangelho de João diz: “Uma grande multidão o seguia porque tinha visto os sinais que ele realizava” (Jo 6,2). Porém, verdadeiros seguidores são somente aqueles que caminham com ele na intenção de acolher seus ensinamentos e se tornarem seus discípulos. “Estar em Cristo”, para o Apóstolo Paulo, não é apenas “estar próximo” dele, mas amar e acolher sua proposta de vida e fazer o mesmo caminho que Jesus fez. “Estar em Cristo” significa viver com Ele contínua e permanentemente. Jesus não pode ser compreendido como uma aventura passageira. Trata-se de um projeto para toda a vida. Sem dúvida, Jesus apresenta o projeto mais desafiador para nossas vidas, se de fato queremos que nossas vidas sejam transformadas. O próprio Jesus disse: “Permanecei no meu amor […]. Eu vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,9.11). “Permanecei em mim”, “porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).

O Evangelho deste domingo (Mc 4,35-41) relata a travessia do mar e a cena é impressionante. Jesus convidou os discípulos para irem à outra margem do mar. Trata-se de uma travessia cheia de simbolismo e significado. Ela representa o enfrentamento dos perigos da vida de todo aquele que segue Jesus. Passar à outra margem do lago significa ir a outros povos, ir aos pagãos para levar-lhes a Boa-Nova do Reino de Deus, o Evangelho. Significa fazer como havia dito o profeta Isaías: “Eu te estabeleci como luz das nações a fim de que a minha salvação chegue até as extremidades da terra” (Is 49,6).

Caros irmãos e irmãs. A travessia é complexa, cheia de perigos. O mar representa as forças, desta sociedade, contrárias ao projeto do Reino de Deus. Jesus está com os discípulos que, diante dos ventos contrários, ficam com grande medo. O Evangelho apresenta Jesus dormindo sobre um travesseiro na parte de trás do barco. Significa que Jesus não se sentia ameaçado diante da situação. Seu sono tranquilo significa que em nenhum momento ele perdeu a paz. O medo dos discípulos os impedia de confiar em Jesus: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” Jesus, sereno, levantou-se e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” “O vento cessou e houve uma grande calmaria”. Então Jesus lhes perguntou: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Sem fé, a presença de Jesus no barco não tinha o menor sentido. Sem fé, Jesus se tornava um mero passageiro, como qualquer outro. O medo enfraquece a fé! Eles deviam crer em Jesus. Ao mesmo tempo, significa que a vida não está isenta de riscos e ameaças, como é o momento presente. O medo, por outro lado, nos põe em estado de alerta e nos permite reagir para orientar nossa vida com maior sentido e segurança, mas sempre confiando em Jesus, em sua proposta de vida. Aos discípulos cabe sempre a tarefa de remar, enfrentando os ventos.

Disse-nos o Papa Francisco no período da pandemia: “À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e turbulenta. Demo-nos conta de estarmos no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos necessitados de muito encorajamento”. A súplica dos discípulos é, hoje, de todo o povo: “Senhor, salva-nos, estamos perecendo” (Mt 8,25)! Também, nos últimos meses, vivendo o desastre climático em nosso Estado, ele nos faz pensar no que, realmente, deve ser prioridade em nossa vida pessoal e em nossa missão como cristãos, como Igreja! Para estarmos seguros, em meio à tantas tempestades, sejam das doenças, das guerras ou climáticas, devemos “estar em Cristo”. Que seja essa nossa prioridade: estar em Cristo.

Deus abençoe a todos e bom domingo!

 

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim