Filhas e filhos amados

A festa do batismo de Jesus completa sua Epifania – manifestação da sua identidade – e conclui o ciclo litúrgico do Natal, jogando mais luz sobre o mistério que envolve a Sua e a nossa vida.

Depois de trinta anos no anonimato, Jesus vai ao rio Jordão, onde João batizava. Segundo a narração de Lucas, Jesus é batizado enquanto orava: “o céu se abriu, desceu sobre ele o Espírito Santo em figura corpórea de pomba e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem-querer!”. Momento que marca o início da vida pública de Jesus. Quem de nós não gostaria de ser chamado e apresentado como filho/a amado/a?

Com a expressão “o céu se abriu”, Lucas quer evidenciar que ficou claro para Jesus o desígnio do Pai sobre sua identidade e missão. A forma corpórea “como pomba”, em correlação com a pomba de Noé, indica um momento novo para criação e para a humanidade: a chegada do Messias, o Salvador do mundo.

A “voz do céu” segundo o estilo judaico faz parte da manifestação e revelação de Deus aos seus enviados para alguma missão particular. Lembremos Moises: “tira as sandálias”. Elias na gruta: “que fazes aqui?” É sempre Deus fazendo ouvir a sua voz e mostrando a sua vontade.

O batismo de Jesus não acrescenta nada a sua identidade, mas revela a sua e a nossa dignidade de filhos de Deus; a sua e a nossa missão. Como ensina São João: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” O que queremos mais?

À medida que conhecemos Jesus, compreendemos melhor nossa identidade e dignidade cristã. Quanto mais nos aproximamos Dele, mais clara fica a grandeza da graça que nos foi dada: aquilo que Ele é por natureza, nós o somos por Graça. Se entendêssemos a grandeza do dom de Deus, certamente o mundo seria um pouco mais humano e melhor.

Abre, Senhor, mais uma vez o céu e faz-nos ouvir tua voz, a tua declaração de amor: “Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem-querer”.

O Filho Unigênito de Deus, que hoje se fez batizar pelo Batista, nos faça sentir o frescor do banho que um dia nos lavou, santificou e leve a bom termo a obra começada em cada um de nós. Bonito sentir-nos filhos e filhas muito amados de Deus!

Para refletir: Tenho consciência da graça recebida com o batismo: ser portador de vida nova da graça? Lembro a data do meu batismo? Costumo celebrá-lo em minha família? Reconheço-me como filho amado? Vou ao encontro dos filhos amados mais desfavorecidos? Sinto-me enviado a participar na missão de Jesus?

Textos Bíblicos: Is 42, 1-7; At 10, 34-38; Lc 3, 15-22; Sl 28(29).

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório