Irmã Dulce
A notícia que chegou até nós, no dia 01 de julho, da canonização da Irmã Dulce, trouxe grande alegria a todos nós brasileiros. Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes (Salvador, 26 de maio de 1914 — Salvador, 13 de março de 1992), mais conhecida como Irmã Dulce ou Beata Dulce dos Pobres, chamada, também, carinhosamente de “o anjo bom da Bahia”. Irmã Dulce foi beatificada em 2011, em Salvador. No dia 13 de outubro de 2019, será canonizada e será a primeira mulher brasileira nata a ser declarada santa.
O Papa Francisco nos disse que “a santidade é a face mais bela da Igreja” (GE 9). O testemunho de vida dos santos e santas são o grande patrimônio da Igreja. Como nos diz a Carta aos Hebreus, somos “circundados de tal nuvem de testemunhas” (Hb 12,1), que nos servem de exemplo e estímulo para trilhar o caminho e correr para a meta. O caminho processual para que a Igreja possa reconhecer oficialmente a santidade de um batizado tem três elementos que devem ser comprovados: a voz do povo, a voz da Igreja e a voz de Deus. De fato, a santidade é vivida no cotidiano da vida, na maior parte das vezes, na simplicidade de uma vida de seguimento de Cristo e, normalmente, sem notoriedade. O primeiro passo é o reconhecimento das virtudes heroicas, isto é, de uma vida humana e cristã exemplar, com reconhecimento da “fama de santidade” pelo povo. Fato este que já existia ainda quando Irmã Dulce vivia. Desde muito jovem foi movida pela misericórdia. Com o consentimento da família a jovem Dulce foi transformando sua casa num centro de atendimento às pessoas necessitadas, conhecida como “a portaria de São Francisco”. Dentre tantas outras iniciativas, destaca-se a fundação, em 1959, das Obras Sociais Irmã Dulce.
A voz do povo, confirmada pelo testemunho de sua vida, é o núcleo da santidade. O reconhecimento da Igreja, porém, ainda passa pela aceitação de dois milagres que são atribuídos à sua intercessão. O milagre para a canonização aconteceu com José Maurício Bragança Moreira. Ele é músico e maestro, casado e natural de Salvador, na Bahia. “Eu era cego dos dois olhos e no meio de uma crise inflamatória dos olhos num momento de muita dor peguei a imagem de Irma Dulce levei até os meus olhos e pedi que ela aliviasse a minha dor. Algumas horas depois o meu olho começou a voltar a enxergar. Dando a mim muito mais do que eu pedi pois nunca pedi para voltar a enxergar porque era impossível” (https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2019-07/jose-mauricio.html). O milagre atesta a voz de Deus, testemunhando que a santidade é acima de tudo graça divina. Assim, a voz da Igreja proclama solenemente esta nova santa.
Na celebração eucarística da memória de um santo, reza-se assim: “Nos vossos santos e santas ofereceis um exemplo para a nossa vida, a comunhão que nos une, a intercessão que nos ajuda”. Temos aqui os elementos fundamentais do lugar dos santos em nossa vida de fé. Em primeiríssimo lugar quando a Igreja eleva aos altares um batizado é para que ele sirva de testemunho de vida, pois pelo caminho que ele trilhou, nos deixou marcas, sinais e nos incentiva a buscarmos com mais coragem a nossa santidade. Em segundo lugar, manifesta a comunhão da fé que nos faz ser uma única família, de todos os batizados, em Cristo. Nós que aqui peregrinamos, estamos unidos com todos os que já estão em Deus. Em terceiro lugar, eles que estão junto de Deus, continuam a fazer o bem, interceder por todos nós. Aqueles que passaram fazendo o bem continuarão a fazê-lo mesmo após sua morte. A intercessão confirma a comunhão que temos em Cristo, nosso único intercessor. Importante que nossa devoção a um santo, em primeiro lugar, sempre tenha seu fundamento na sua vida, no seu testemunho.
+ Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta