Jesus em nosso dia a dia

 

Na 1ª Leitura de hoje (Jó 38,1.8-11), ouvimos o brado de Jó ao Senhor, que questiona Deus pelas calamidades que enfrentava, sobre a razão de seu sofrimento. Deus responde-lhe do meio da tempestade, recordando a Jó sua onipotência, e dá como exemplo da mesma o fato de ter fixado os limites do mar. O mar, frequentemente associado ao caos, às trevas e ao mal, é dominado por Deus, que subjugou essas forças adversas.

Diante da realidade do mundo moderno, frequentemente nos sentimos tentados, como Jó, a lamentar a aparente ausência de Deus em nossas vidas. Observamos opressores e pessoas de má índole prosperando e cometendo injustiças, enquanto calamidades e doenças afligem inocentes, causando sofrimento. Nessas horas, questionamos: onde está Deus? Será que Ele se esqueceu dos pobres e indefesos? Desejaríamos um Deus que interviesse diretamente para reverter as injustiças e defender as vítimas.

Nossa experiência dos últimos meses, com tantas desgraças acontecendo em nosso Estado, levou certamente a muitos a este questionamento: onde estava Deus durante estas catástrofes naturais? A resposta, que muitas vezes nos esquecemos de dar, é que Deus estava conosco, em nós, em todos os que sofreram com estes desastres naturais e conosco que nos movimentamos para ajudar, da forma como foi possível nossos irmãos sofredores. Deus está sempre conosco. Nunca nos abandona.

No entanto, Ele nos pede uma confiança absoluta em seu amor, assim como fez com Jó, para acreditarmos que Ele continua a guiar os acontecimentos da história e da vida como um Pai amoroso para todos os homens.

Este foi o sentimento dos discípulos na barca, que experimentaram a força de Jesus ao acalmar o vento e o mar, como nos ensina o Evangelho deste Domingo (Marcos 4,35-41).

Os discípulos, na barca que simboliza a Igreja, sentiram-se desamparados, acreditando que dependiam apenas de suas capacidades. Cristo, aparentemente adormecido, não se incomodava com a tempestade. Muitas vezes, também temos a tentação de pensarmos que Jesus está distante ou ausente diante dos nossos problemas e contrariedades. Contudo, Ele é um Deus que permite que o desenrolar das coisas naturais, a cobiça, as contendas, a falsidade e as arbitrariedades sigam seu curso. Quando o mal parece inevitável, Deus revela que Ele é sempre o vencedor.

Os discípulos erraram ao lembrar-se de Jesus apenas na hora do desespero. Da mesma forma, frequentemente recorremos a Deus somente em momentos de adversidade, esperando uma intervenção milagrosa para mudar o curso da história. Mas será que essa é uma fé autêntica?

A verdadeira fé em Cristo implica viver em constante relacionamento com Ele, não o invocando apenas nos momentos difíceis. Os discípulos foram repreendidos por sua pouca fé, pois só se admiraram quando a força da natureza obedeceu a Jesus.

Se Jesus demonstrou tal poder, significa que Ele é o Senhor, o que inspirou nos discípulos um temor respeitoso, reconhecendo sua capacidade de dominar todas as forças ameaçadoras. O cristão deve cultivar uma fé profunda em Jesus, baseada na certeza de sua presença constante entre nós, conforme prometido. São Paulo, na 2a Leitura de hoje (2 Coríntios 5,14-17), nos lembra que o amor de Cristo o levou a morrer por todos nós, e este gesto deve conduzir seus discípulos a segui-lo, sem olhar para trás, mas sempre para frente, guiados pela esperança de sua presença constante conosco e entre nós.

Que o Senhor nos auxilie a desenvolver tal aptidão.

 

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen