Memórias de Natal – II
Hoje iniciamos com votos de Feliz e Santo Natal para todos os nossos ouvintes e/ou leitores. Com a mensagem natalina da semana passada, em memória aos 15 anos do falecimento de Dom Aloísio – Cardeal Lorscheider, ocorrida no dia de Natal de 2007, comentamos um escrito de seu livro: Encontro com o Pastor (1978). Nossa primeira mensagem teve o título: Memórias de Natal – I. Hoje continuamos nossa reflexão: Memórias de Natal – II, comentando seu artigo intitulado: “Contradições no Natal”. Já pelo título de seu artigo, percebe-se que Dom Aloísio Lorscheider prepara um Natal, não apenas espiritual, mas bem ligado à realidade da vida dos fiéis, tendo presente as tendências do mundo de então.
Inicialmente o autor fala do Menino de Belém, em quem a humanidade pode colocar toda sua esperança, pois ele veio como salvador, como portador da paz para o mundo: “A paz é possível… A paz é obrigatória” (p. 254). Mas a humanidade continua a se odiar, a se matar, a fazer guerras absurdas e, inclusive, a matar a vida apenas concebida no seio materno. Continua a explorar e a gerar fome: “A guerra, o aborto, a fome são três males terríveis que continuam a desafiar a humanidade. Enquanto eles não forem superados, nós, criaturas humanas, nunca teremos paz” (p. 255).
Um dito dos antigos guerreiros romanos dizia: “Se queres a paz prepara a guerra”. O autor afirma que este triste espírito guerreiro continua em vigor nos nossos tempos, quando ainda enormes gastos em armamentos são feitos pelos diversos países. Lembra que qualquer delito contra a vida é um atentado contra a paz: “É muito triste que nós, criaturas humanas, todas feitas à imagem e semelhança de Deus, todos chamados a sermos irmãos entre nós em Cristo Jesus, devamos manter a paz à custa de tanta arma” (p. 255). Quanto prejuízo para a educação e a saúde, para o desenvolvimento agrícola e para o progresso geral da civilização, acrescenta ainda o então Arcebispo de Fortaleza. Com muita preocupação ele escreve: “Estamos vivendo uma paz fundada sobre a ameaça perpétua à Vida… Quando é que iremos converter-nos”? (p. 256).
Finalmente, o autor reafirma que a vida é sagrada, intocável, digna de todo respeito e cuidado, desde a concepção até o último instante da sua sobrevivência natural. Na visão cristã, tanto o aborto como a eutanásia são delitos contra a vida.
Pelas sábias palavras de nosso saudoso Cardeal Lorscheider, percebemos o quanto nossa vida humana tem valor e dignidade. O Natal nos ajuda a compreender a riqueza sagrada de toda vida humana, recebendo ela uma dignidade incomparável. Pela encarnação, Deus assume em Jesus Cristo a natureza humana, vem unir sua divindade à nossa humanidade, dando-nos acesso à vida divina, o que sempre foi o projeto de Deus: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou” (Gn 1, 27). Esta teologia faz a Igreja rezar no dia do Natal: “Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade” (Oração do Dia – Missa do Dia). Ou ainda: “Acolhei, ó Deus, a oferenda da festa de hoje, na qual o céu e a terra trocam os seus dons, e dai-nos participar da divindade daquele que uniu a vós a nossa humanidade” (Oração Sobre as Oferendas – Missa da Noite).
Caros irmãos e irmãs, seja vosso Natal abençoado com a presença de Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. Proporcione também a alegria do encontro fraterno de familiares, amigos e a comunidade cristã. Feliz e Santo Natal!
Dom Aloísio Alberto Dilli -Bispo de Santa Cruz do Sul