Missa e procissão de Corpus Christi em Erexim

Para Dom José, Cristo se dá a seus discípulos como Pão da Vida a fim de serem alimento para os outros

Em muitos países, na quinta-feira após a solenidade da Santíssima Trindade, ocorrida no domingo após Pentecostes, a Igreja Católica celebra a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. A celebração foi instituída em 1264, como expressão de fé na presença real de Cristo no pão e no vinho consagrados e como louvor a Deus por este grande dom por Ele concedido na última Ceia. A solenidade consta de celebração da Missa, seguida de procissão com bênção com o Santíssimo Sacramento.

Apesar do frio da manhã desta quinta-feira, cujos efeitos foram atenuados pelo sol esplêndido, o dia foi totalmente favorável às celebrações da missa e procissões das Paróquias católicas da região, programadas para a manhã ou para a tarde.

Em Erechim, 5 Paróquias e o Santuário de Fátima realizaram a celebração às 09h, Catedral, N. Sra. da Salette, São Cristóvão, N. Sra. Aparecida do Bairro Progresso e do Bairro Bela Vista. A Paróquia Santa Luzia, Atlântico, às 14h, e São Pedro, às 14h30.

Três procissões dirigiram-se ao Santuário de Fátima, São Cristóvão, N. Sra. da Salette e Na. Sra. Aparecida do Bairro Bela Vista. Lá, os participantes da missa aguardaram a chegada das três, acompanhando as motivações e orações animadas pela equipe de liturgia com o Pe. Valter Girelli e o Pe. Giovani Momo e os cantos conduzidos pelo Pe. José Carlos Sala e instrumentistas. Na chegada, Dom José dirigiu sua palavra e procedeu à bênção com o Santíssimo Sacramento.

Presidindo a cerimônia da solenidade na Catedral e a bênção com o Santíssimo na chegada ao Santuário, Dom José ressaltou que a Eucaristia é mistério que envolve, surpreende e alegra. Nele, Cristo se oferece a si mesmo em comunhão de vida eterna. Para o Bispo, Deus, em seu Filho, quis ser alimento para saciar a fome de vida eterna para todos aqueles que o desejam, que se deixam envolver pelo seu dom de amor. Não só! Ele deseja que seus discípulos, participando da mesa eucarística, se façam alimento para os outros, realizando o mesmo gesto de amor. O pouco que eles podem doar, oferecido com simplicidade e generosidade ao Senhor, pode ser por Ele multiplicado com abundância para a vida de muitos. Tudo isso é possível no Espírito e na sua bênção transformante. O pão e o vinho consagrados pelo Espírito, que opera uma nova criação, tornam-se verdadeiramente Corpo e Sangue de Cristo nas mãos do sacerdote, que pronuncia as mesmas palavras ditas por Jesus na quinta–feira santa no Cenáculo. O Bispo exortou a todos a não fechar o coração a Cristo e aos desassistidos, passando necessidades, diante dos quais ninguém pode agarrar-se à desculpa de que se tem “só cinco pães e dois peixes”, para não praticar a caridade, para não viver a solidariedade. Quando se abre o coração para acolher a bênção de Deus, acolhe-se também a abundância da sua graça, que permite partilhar, para saciar o faminto, sem faltar o necessário para o próprio sustento.

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Íntegra da homilia de Dom José na Catedral e antes da bênção no Santuário

Na Catedral São José

Saúdo os irmãos e irmãs presentes aqui na Igreja Catedral São José e também aqueles que nos acompanham através da Rádio Difusão, de modo especial os enfermos e seus familiares.

Como Igreja comunidade de fé, celebramos a Solenidade do Corpus Christi, recordando a instituição da Eucaristia realizada por Jesus na última ceia. Jesus é o Cristo, é o Filho de Deus, gerado pelo Pai, o Verbo encarnado, concebido por obra do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, crucificado, morto e ressuscitado para a nossa salvação. Deus feito homem em Jesus assumiu uma carne humana, para entrar em comunhão com a sua criatura, feita à sua imagem e semelhança de modo admirável, e para oferecer-se a si mesmo em uma comunhão de vida eterna.

Hoje celebramos este mistério que nos envolve, nos surpreende e nos alegra. O Filho de Deus altíssimo e criador não só se fez carne, mas na sua grande humildade se fez pão vivo e vinho novo, para se deixar comer e beber por nós, e permitir assim que a criatura humana, homens e mulheres, seja transformada e se torne partícipe da sua natureza divina. Como pode acontecer isso? É um mistério da fé! Diante dele, paramos, refletimos e adoramos! Com grande amor e gratidão, contemplamos hoje este mistério! O comer é símbolo de participação, de vida, de comunhão. Deus quis ser alimento para saciar a fome de vida eterna para todos aqueles que O desejam, que se deixam envolver pelo seu dom de amor.

Não só! Ele deseja que também nós nos façamos alimento para os outros, realizando o mesmo gesto de amor. Tudo isso é possível no Espírito e na sua bênção transformante. O pão e o vinho consagrados pelo Espírito, que opera uma nova criação, tornam-se verdadeiramente Corpo e Sangue de Cristo nas mãos do sacerdote, que pronuncia as mesmas palavras ditas por Jesus na quinta–feira santa no Cenáculo. A mesma carne assumida pelo Verbo, comida por nós, faz com que nos tornemos seus membros. O gesto de tomar, de comer e de beber o vinho, nos dispõe a distribuir aquilo que temos recebido, como aconteceu com os apóstolos na Galileia, perto do lago de Tiberíades, no dia da multiplicação dos pães.

O texto do livro do Gênesis (Gn 14,18-20) nos apresenta a figura de Melquisedec, que significa rei de justiça. Ele reina sobre Salém, que quer dizer paz, mas também é sacerdote do Deus Altíssimo. Ele leva consigo pão e vinho e os oferece a Abraão, como sinal da bênção de Deus. Ele representa um sacerdócio superior àquele da futura tribo sacerdotal de Levi, descendente de Abraão, e em sinal de reconhecimento e gratidão a Deus, Abraão lhe entrega a oferta do dízimo de tudo aquilo que possuía.

Melquisedec é um rei sacerdote que abençoa Abraão em nome de Deus. É mediador da bênção descendente e ascendente. É nomeado também no Salmo 109, na carta aos Hebreus e na primeira oração eucarística. O modo do seu sacerdócio é referido na singularidade da sua pessoa: não são recordadas a sua proveniência ou a sua descendência, como era costume na vida de todo sacerdote da Antiga Aliança. Ele nos remete ao eterno sacerdócio de Jesus Cristo, Filho de Deus, que se oferece a si mesmo para a salvação da humanidade e para a instauração do reino da paz verdadeira.

O Senhor Jesus é o sacerdote da Nova Aliança, que abençoa o pão e o vinho na ceia pascal, que se tornam seu Corpo e Sangue, para que Ele possa permanecer conosco para sempre. Ele deixou este dom de si nas mãos dos apóstolos, dos seus sucessores e de todos os sacerdotes, para que continuassem a celebrar a Eucaristia em todo tempo e lugar.

Na realidade da nossa vida hoje, Jesus nos fala do reino de Deus, cura todos aqueles que têm necessidade de serem curados e oferece o Pão de Deus a nós todos aqui reunidos. Como cristãos, temos a graça de poder comer e beber deste dom para nos tornarmos participantes do Corpo e do Sangue de Cristo. Este Pão da vida que é Jesus nos dá forças e nos sustenta na caminhada para a casa do Pai, nos envolve nas obras do amor caridade e na doação de nós mesmos para a missão de anunciar a Boa Nova da salvação na espera do retorno do Ressuscitado.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

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Na bênção com o Santíssimo no Santuário

Saúdo os irmãos e irmãs que nos acompanham pela Rádio Virtual e os que vieram das várias Paróquias e comunidades, como peregrinos, trazendo no coração a fé e a esperança no Senhor da vida, no Senhor Jesus que entregou a vida na cruz, para que tivéssemos vida em abundância. Vocês caminharam até aqui, acompanhando o Jesus que carregou a cruz, que foi crucificado, que foi sepultado, mas não foi derrotado.

Ele ressuscitou, ele está vivo, é presença real na Eucaristia. O verdadeiro pão do céu é Jesus. O Evangelho quer nos ajudar a compreender que, partícipes em Cristo da sua vida, somos chamados a nos tornarmos “pessoas eucarísticas”. Os fiéis que se alimentam do Pão da vida e bebem do Cálice da salvação são convidados a partilhar aquilo que são, ajudando assim o Senhor a realizar as suas maravilhas também no nosso tempo, na nossa realidade, pessoal, familiar e comunitária.

Queridos irmãos e irmãs, em muitas realidades, a humanidade sofre com a precariedade da própria vida. Esta precariedade pode ser marcada pela falta de trabalho, pelo sofrimento causado pela negação do acesso à saúde, à educação, à moradia digna, à dignidade de vida ou pode ser também fruto da violência em todas as suas formas. O fruto do pecado do ser humano tem várias manifestações e se faz presente em todas as realidades da nossa existência.

Quem saciará a nossa fome e a nossa sede de viver? O pão, em si, é um problema de justiça social. Mas é também um problema de fé, porque o homem sem Deus se sentirá sempre frágil e angustiado, sem esperança e faminto. Não basta termos acesso a mesas fartas para nos saciarmos; precisamos aproximar-nos à mesa de Deus para não termos mais fome. Por isso, a palavra de Deus nos convida a reconhecermos o pão como dom de Deus.

Quando participamos do banquete eucarístico, temos acesso ao Pão da Eucaristia, Cristo Jesus, mas ao mesmo tempo somos convidados a partilharmos o pão do nosso tempo, fruto do trabalho, do nosso cansaço e do nosso amor com os outros. O pouco que podemos doar, oferecido com simplicidade e generosidade ao Senhor, pode ser por Ele multiplicado com abundância para a vida de muitos. “Dai-lhes vós mesmos de comer”, disse Jesus aos seus discípulos, que queriam que o Mestre despedisse a multidão que o escutava, que estava sendo saciada espiritualmente com o Pão da Palavra e curada em suas enfermidades. Mas precisava também do pão comestível para saciar a fome material do corpo.

Queridos irmãos e irmãs, não fechemos as portas do nosso coração. Jesus nos ensina que através da partilha, do amor caridade é possível ainda o milagre do amor que sacia a fome de pão, de justiça, de fraternidade e dignidade de vida. Diante de Deus e daqueles que estão no “deserto da nossa sociedade”, desassistidos, passando por necessidades, não podemos nos agarrar à desculpa de que temos “só cinco pães e dois peixes”, para não praticar a caridade, para não sermos solidários. Quando abrimos o nosso coração para acolhermos a bênção de Deus, acolhemos também a abundância da sua graça, que nos permite partilhar, para saciar o faminto, sem faltar o necessário para o nosso sustento.

Não se pode viver sem pão, mas também não se pode viver sem amor; principalmente não se pode viver sem acolher Jesus na nossa existência cotidiana, com a sua Palavra e o seu Amor para colocá-los em prática através das nossas ações e pelo testemunho de vida.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.