“Nós amamos porque Deus primeiro nos amou” (1Jo 4,19)

Todos os anos, no mês de setembro, a Igreja no Brasil oferece um tema para aprofundar a fé cristã em família e em comunidade. Este ano, com a Primeira Carta de São João, escolhemos o lema: “Nós amamos porque Deus primeiro nos amou”.

A Primeira Carta de João nos faz um grande convite para acolher e anunciar o querigma, isto é, Jesus Cristo, que desde o princípio, manifestou-se para a humanidade como o Salvador esperado. Assim, somos convidados a dar testemunho da vida e da luz, que é Deus; e em Deus, não há treva ou pecado. Se estamos em comunhão com Ele, não podemos viver no pecado. Assim, nós nos reconhecemos pecadores e confessamos o nosso Pecado, confiando na misericórdia de Cristo, nosso advogado junto ao Pai. 

A Carta começa em forma poética. A expressão “palavra da vida” chama nossa atenção. “Palavra da vida” é um modo de referir-se a Jesus, o Filho, que estava junto do Pai (1Jo 1,2) e que agora se manifestou: Jesus Cristo (1Jo 1,3). A comunidade testemunha e anuncia com alegria o que ouviu, viu, contemplou e até tocou com suas mãos. O anúncio tem duas finalidades: construir a comunhão com Deus (1Jo 1,3) e gerar alegria na comunidade cristã (1Jo 1,4). A comunhão de Jesus Cristo é com os seus discípulos (Jo 17,11b), os que conviveram com ele e os que agora o anunciam. Isso significa que a comunhão com o Pai se dá através do Filho Jesus (Mt 11,27), e que a comunhão com o Filho Jesus se dá por meio dos que conviveram com Ele e o anunciaram (Mt 28,19-20). Quem acolhe esse anúncio também é chamado a testemunhá-lo, gerando comunhão, que é a Igreja (1Jo 1,3).

Outro aspecto a ser destacado é a alegria completa. O prólogo da Primeira Carta de João termina com a frase: “nós vos escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa” (1Jo 1,4). No discurso de Jesus, na última ceia com seus discípulos, ele diz: “eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa (Jo 15,11). A transmissão da mensagem, oral ou escrita, visa à comunhão e à alegria plena. Essa é a alegria do Evangelho, como diz o Papa Francisco.

A Carta destaca o contraste entre luz e trevas, verdade e mentira, perdão e pecado. Deus é luz e nele não há trevas ou pecado. Nós somos luz e em nós ainda há treva e pecado. Quem diz que está em comunhão com Deus, mas caminha nas trevas, mente. Há, contudo, uma saída: a confissão dos pecados. E Cristo, que é fiel e justo, perdoa nossos pecados, purifica a injustiça e reconstrói a comunhão com Deus e com os irmãos.

Na Carta, percebemos que Jesus Cristo é a Palavra eterna do Pai que se manifestou a nós, para que, através de nosso testemunho, outras pessoas possam conhecê-lo. Nossa missão é anunciar Jesus Cristo, nosso Salvador, se for preciso, com palavras afirma São Francisco. O Papa Francisco nos desafiam a sermos Igreja em saída missionária. Façamos este propósito de cultivarmos uma espiritualidade missionária.

Dom José Mário S. Angonese

Bispo de Uruguaiana