O abraço da misericórdia do Pai
Queridos irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Estamos vivendo o tempo da Quaresma, em que somos motivados a percorrermos um caminho de conversão, ajudados pela oração, pelo jejum e pela esmola. Podemos dizer que é um tempo marcado pelo despojamento e pela austeridade, para que resplandeçam, através das nossas atitudes, a graça da misericórdia de Deus.
Dentro deste tempo da Quaresma celebramos o “domingo da alegria”. E o motivo da alegria cristã é o banquete que o Pai misericordioso da parábola do Evangelho prepara para acolher o filho que estava perdido e foi encontrado, estava morto e tornou a viver. Este banquete de festa é o símbolo eloquente do perdão e do amor com o qual somos esperados, acompanhados e acolhidos durante o nosso peregrinar nas estradas do mundo até o retorno à casa do Pai.
Mesmo quando não sabemos e não o sentimos, quando estamos afastados, ocupados em gastar a herança que o Pai nos deu, nos afligindo pelas nossas dificuldades, pelas provações da vida, o Pai nos espera, corre ao nosso encontro e está sempre pronto a nos oferecer com amor o seu perdão. Muitas vezes o egoísmo da nossa autossuficiência pode nos levar para longe da casa do Pai, mas Deus jamais nega a seus filhos e filhas o remédio da misericórdia, que cura as feridas do corpo e do espírito, e revigora as nossas forças para continuarmos a jornada da vida.
Quaresma é tempo de purificação. Para o povo de Israel é a passagem do êxodo, entre a escravidão no Egito e a liberdade na terra prometida. É o fim e o início de uma nova página na história do povo da Antiga Aliança, mas também é o inicio de uma nova vida, para cada um de nós, se deixarmos a misericórdia de Deus tocar o nosso coração.
Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura, nos diz São Paulo. Ser nova criatura é possível, através do perdão e da reconciliação que nos é oferecida em Cristo Jesus. Quando nos deixemos reconciliar, as coisas que nos oprimem e nos escravizam não terão mais o poder de impedir que a nossa vida possa florescer e ter um novo sentido, porque o nosso coração deixou-se tocar pelo amor misericordioso do Pai, que faz uma grande festa na sua casa pela volta do filho ou da filha.
Tomado de alegria pela volta do filho perdido, o pai da parábola do Evangelho (Lucas 15,1-3,11-32) faz uma festa, mas não se alegra sozinho, pede aos que estão na sua casa, para participarem da festa e da sua alegria. A festa não está condicionada às explicações do filho sobre a herança que tinha recebido. Não pede ao filho por onde andou durante o período em que esteve longe da sua casa, quanto gastou ou como gastou, nem por qual motivo voltou? Não manda terminar a festa, mesmo diante das considerações carregadas de rancor e vazias de amor do filho mais velho.
Aquele pai se deixa guiar pela alegria que existe no seu coração. Por ter reencontrado o filho que estava perdido, transforma em festa o que nasce do seu amor. Por isso, não coloca condições para ter em sua casa novamente o filho perdido e reencontrado.
Um amor assim nos leva a nos confrontar com as nossas cumplicidades, com as nossas razões contrárias ao perdão, à reconciliação, à alegria, à festa e à gratuidade. Um amor assim nos pede para abandoná-las para poder finalmente dizermos, também nós, ao nosso Pai celeste: “Aquela festa que preparaste um dia para o filho pródigo, prepara-a agora também para mim”, estou de volta na tua casa, senti saudades do teu abraço misericordioso, do teu amor de Pai, que se alegra e faz festa com a minha volta, me reintegra na tua casa, me ajuda a ter novamente uma família, onde me sinto acolhido e amado porque fui perdoado. Ó Pai misericordioso, abra as portas do nosso coração ao perdão, para que possamos “falar com sabedoria e ensinar com amor”, e celebrar com alegria e esperança a festa da Páscoa, reconciliados em nossas famílias e comunidades.
+ Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul