O Ano da Oração
Estamos vivendo a preparação para o Jubileu de 2025, o jubileu da esperança convocado pelo Papa Francisco. Nesse caminho, 2024 é o ano da oração. Rezar é entrar num trato de amizade com Aquele que já sabemos que nos ama, disse a grande mística Santa Teresa. Rezar é dialogar, falar e ouvir, dizer e escutar, reclinar o coração sobre o peito de Jesus como fez São João na última Ceia. Quem se afasta da oração, foge de todo o bem, escreveu São João da Cruz.
Há, no mínimo, duas formas de rezar: contemplando as obras do Criador e sentindo que o Espírito Santo é quem reza em nós. Se meditamos o Salmo 8, admiramos as obras criação, compreendemos que a oração é extremamente simples, é como algo que sai da boca e do coração da criança. É ver a imensidão do mar e a altura das montanhas, é se emocionar com a chegada de um bebê na família ou a explosão de beleza de uma noite estrelada, e dizer: Meu Deus, como é grande o vosso nome por todo o Universo!
É a resposta imediata que surge em nossos corações quando nos deparamos com a verdade do ser. É quando nos sentimos um pouco como se estivéssemos saindo da escravidão das intrusões cotidianas, da escravidão das coisas que continuamente nos impelem. Assim, respiramos mais fundo do que de costume, sentimos algo se movendo dentro de nós, e então, nesses momentos de graça natural, nesses momentos felizes em que nos sentimos plenamente nós mesmos, é muito fácil, é quase instintivo, rezar.
Além dessa verdade, há outra situação a considerar: é a oração do cristão. Esta não é simplesmente a minha resposta à realidade do ser que me rodeia, ou ao sentimento de autenticidade que sinto dentro de mim, mas é o Espírito Santo que reza em mim. É como diz a Carta aos Romanos: o Espírito reza em nós. Afinal, não somos nós, como cristãos, que rezamos, é o Espírito que reza em nós. Sem essa premissa do Espírito não há oração cristã.
Antes de tudo, a oração do cristão é um dom direto de Deus, que nos envia o Espírito, que nos dá a oportunidade de rezar na verdade, isto é, na revelação que o Pai faz de si mesmo em Jesus. Não teríamos ensinado verdadeiramente a oração se tivéssemos nos limitado a despertar sentimentos de louvor, admiração, gratidão, questionamento, e se não tivéssemos inserido essa realidade no ritmo do Espírito que ora em nós. Se admiramos a obra da Criação, mais admirados ficamos ao ver como o Pai, em Jesus Cristo, nos salva e recria, destruindo o pecado e vencendo a morte. Nossa Oração de cristãos é um desdobramento da obra redentora que Cristo realizou na Páscoa. Na oração pascal nada é mais forte do que pedir a graça de participar da Vida Eterna que o Senhor nos oferece em Jesus.
Bem sintetiza essa realidade o grande bispo de Hipona, Santo Agostinho: Senhor, estavas comigo, e eu não estava Contigo. Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz! (Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29).
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3