O caminho que procuramos seguir

No Evangelho deste Domingo (João 14,1-12) encontramos uma situação experimentada por Tomé e os discípulos: a de sentirem-se desnorteados pela possível ausência física de Jesus. Jesus lhes afirma: “Não estejais perturbados… tende confiança. Eu vou para o Pai… vou preparar-vos um lugar… Para onde Eu vou, conheceis o caminho”. Tomé confuso, diz a Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais: como poderemos conhecer o caminho?”. E Jesus responde-lhe: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim”.

Jesus é o caminho e afirma que Ele também há de percorrer esse caminho difícil, acrescentando que os seus discípulos deveriam conhecer muito bem esse caminho, porque já tinha falado dele muitas vezes e que, depois de cumprida a sua missão, Jesus voltará e levará consigo os seus discípulos e lhes dará coragem de seguir os seus passos.

O caminho a que Jesus se refere trata-se daquele para a Páscoa, caminho difícil, porque exige o sacrifício da própria vida pelos irmãos. Jesus falou muitas vezes disto aos seus discípulos. Eles tiveram sempre muita dificuldade em entender, sobretudo quando lhes acenava com a necessidade de fazer da vida um dom.

Quando alguém aceita seguir o caminho indicado e percorrido por Jesus encontra-se, já aqui neste mundo, na casa do Pai. Essa casa não é o paraíso, mas a comunidade cristã. É aí que há muitos lugares, isto é, muitos serviços a fazer, muitas funções a desempenhar. Os muitos lugares outra coisa não são do que os diversos ministérios, situações e disposições vocacionais em que cada um tem a possibilidade de colocar a serviço dos irmãos as próprias capacidades, sejam elas afetivas, profissionais ou ministeriais, para o bem da Igreja e do mundo.

O lugar que Jesus prepara é diferente dos cargos da sociedade civil que são avaliados com base no poder, no prestígio ou na remuneração monetária. Esse melhor lugar na casa do Pai é avaliado com base num novo critério: o maior e melhor serviço é aquele que pode ser prestado ao irmão na comunidade eclesial e no mundo. Este serviço prestado é para que a Igreja consiga ser fundamento de uma nova construção, comparável ao edifício espiritual, de que fala São Pedro na 2ª Leitura (1ª Pedro 2,4-9).

O construtor desse edifício espiritual é Deus e o material dessa construção não é constituído por tijolos de barro, mas por pedras vivas que são os homens. A pedra angular dessa construção é Cristo. Sobre esta pedra angular, Deus foi colocando outras pedras vivas: aqueles que acreditam nele, todos os batizados, que unidos a Jesus formam um novo e imenso templo.

Pedro na noite de Páscoa, ao dirigir-se aos recém-batizados, recordava-lhes que no Antigo Testamento já tinha sido anunciado que um dia Deus apanharia uma pedra lançada fora pelos homens colocando-a na base dum novo edifício. Essa pedra é Jesus, rejeitado pelos chefes religiosos e políticos do seu povo e que Deus, no dia de Páscoa, foi buscar colocando-o como fundamento da nova construção.

Juntamente com Cristo, fundamento e centro dessa construção, todos nós cristãos, colaboramos ao oferecermos sacrifícios espirituais que agradam a Deus: uma vida santificada, coerente com a nossa fé e repleta de amor para com os demais. Por estes sacrifícios todo o cristão se torna, pelo Batismo, sacerdote imprescindível na colaboração da construção da comunidade eclesial e do mundo.

Dom Antônio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen