O Dia de Finados faz pensar na vida
Nós humanos temos uma única certeza sobre o futuro: sabemos que iremos morrer. O tema da morte, entretanto, é indesejado e até camuflado num tempo de avanços tecnológicos e inteligência artificial que tendem a prolongar os nossos dias na Terra. Refletimos um pouco sobre o findar quando chega o mês de novembro, quando no dia 2, fazemos um feriado em memória daqueles que partiram desta vida.
Mesmo com a perspectiva de vida longeva ou mesmo diante da distração do tempo que passa com os muitos atrativos para “viver” bem o aqui e o agora, paira uma pergunta no ser humano: por que viver, se vamos findar? Mais: por que alguns perdem o sentido da vida e desistem de viver? Enfim, acabamos constando, conscientes ou não, de que se reprimirmos a morte de nosso horizonte, teremos uma compreensão reduzida da vida. Pois esta tende a findar.
Epicuro sugere a separação radical entre vida e morte, propondo levar uma vida sem morte, uma vez que ela não faz parte do viver, é de outra ordem. Na verdade, com essa separação apenas se consegue a sensação de vida sem consciência da morte, reprimindo-a. No período medieval, as pessoas queriam morrer preparadas, conscientes do findar e não desejando, por isso, a morte súbita. De forma contrária, hoje se pretende uma morte sem dor e imediata. Cada vez mais os funerais têm tempo abreviado, os sentimentos nem sempre são externados e o luto, não raras vezes, camuflado nessa sociedade do desempenho, na qual as metas e a correria do cotidiano dissipam a capacidade de espreitar a vida que tende a morrer. Por isso que quem vive correndo, quando se depara com uma doença grave e terminal, dificilmente compreende um sentido para essa existência que não é só marcada por saúde, beleza e dias de festa. Há também o envelhecer, adoecer e o morrer. E isso não precisa ser uma dor a ser cultivada no jardim do cotidiano, tampouco se pode procurar um anestésico que arremeta a existência para os voos da banalização da morte.
No feriado de 2 de novembro deveríamos refletir sobre a nossa capacidade de recuperar a memória daqueles que fizeram parte de nossa história. Igualmente deveria fazer-nos compreender que não somos seres isolados, pois fomos cuidados, acompanhados e amados por pessoas, e algumas delas já partiram. Ela leva para a eternidade algo de nós. Finalmente, esse feriado deveria provocar em nós a capacidade de ver que nossa vida também passará. Como o dia termina com o belo pôr do sol, como um livro tem o epílogo e a novela tem seu último capítulo, nossa vida tende a um final que não significa o fim da existência. Afinal, morremos sempre. Morre o idoso, farto de dias, e morre também o jovem, sedento de vida. Cabe a cada um dar uma resposta a esta experiência que todos passaremos, mesmo que sobre ela não pensemos. Vale, para concluir, recordar a experiência de Santa Teresinha do Menino Jesus, monja carmelita francesa que após uma intensa enfermidade, viu se aproximar a morte e escreveu: “não morro, entro na vida”!
Dom Leomar Brustolin – Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre