O domingo do perdão
Certamente há muito não tínhamos tanto tempo para ficar em casa, conversar sobre os assuntos bem familiares e resolver problemas há muito pendentes do que agora, durante esta longa e forçada quarentena.
Um assunto que sempre nos ocorre nesta hora é a questão desafiadora do perdão mútuo. E, neste domingo, este é o grande assunto. Já no antigo testamento o povo de Israel se colocava esta questão. Assim está no Eclesiástico: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. Quem se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá contas severas de seus pecados. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim quando orares, teus pecados serão perdoados” (Eclo 27,33-28,2). Era o povo de Deus que fazia um paralelo entre o perdão mútuo, com o perdão que sempre de novo precisamos de nosso Deus.
No Novo Testamento, este tema entrou na oração que Jesus ensinou aos seus apóstolos: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam”. Foi diante desta afirmação que Pedro faz a pergunta no evangelho deste domingo: “Senhor quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18,21).
Jesus não dá simplesmente uma resposta, mas conta ainda toda uma parábola, para mostrar como é grave esta afirmação que sempre repetimos no Pai-Nosso: “Perdoai-nos assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam”. Se nós queremos o perdão de Deus, precisamos também perdoar aos que nos ofenderam. Perdoar é um assunto sério, torna-nos sempre mais livres, capazes de olhar para todos e conviver na fraternidade.
Este tema certamente é responsável pela grande quantidade de casais que se separaram durante a quarentena que estamos fazendo. Nós sabemos que sempre acontecem os desentendimentos e discussões. Quando então somos capazes de nos perdoar, superamos tudo isto e podemos realmente olhar uns para os outros e reconhecer que somos da mesma família, onde todos se querem bem e se tratam como irmãos.
Passada esta pandemia, nós precisamos tratar de rever toda a nossa vida familiar e comunitária. É tempo de redescobrir esta dimensão de nossa fé e de viver o compromisso cristão. São Paulo ainda nos acrescenta: “Se estamos vivos, então é para o Senhor que vivemos” (Rm 14,8).
Dom Zeno Hastenteufel – Bispo Diocesano de Novo Hamburgo