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O Espírito Santo e a liturgia

Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul

Estamos próximos da solenidade de Pentecostes, conclusão do Tempo pascal. O mesmo Espírito Santo que atuou na vida de Jesus está presente na Igreja nascente: ela nasce em Pentecostes sob a manifestação do Espírito de Deus e é acompanhada por ele através dos tempos. Não podemos compreender a pessoa e a missão de Jesus sem a presença do Espírito Santo; e a Igreja, sem sua força, seu sopro, seria uma sociedade, como tantas outras. Também nós participamos desta história, animados e vivificados pelo mesmo Espírito em nossa vida pessoal, social e eclesial.

Afirma Santo Irineu (séc. II) que o Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes com o poder de fecundar, de dar a vida nova a todos os povos, atraindo-os à Nova Aliança: “Eis porque, naquele dia, todas as línguas se uniram no mesmo louvor de Deus, enquanto o Espírito congregava na unidade as raças mais diferentes e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações” (LH, vol. II, Solenidade de Pentecostes, p. 926). No entender de São Paulo, é também o Espírito Santo que une, congrega e forma a Igreja como um só corpo, embora constituída de muitos membros (Cf. 1Cor 12, 12ss). Referindo-se à unidade e à vivificação do Espírito, continua a dizer Santo Irineu: “Assim como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa nem um só pão, nós também, que somos muitos, não podemos transformar-nos num só corpo, em Cristo Jesus, sem a água que vem do céu. E assim como a terra árida não produz fruto se não for regada, também nós, que éramos antes como uma árvore ressequida, jamais daríamos frutos de vida, sem a chuva da graça enviada do alto” (Ibidem).

Este Espírito Santo, que dá vida, fecunda e une está decisivamente atuante na vida cristã e, sobretudo, em cada ação litúrgica; sem a sua presença simplesmente não há liturgia, pois nela acontece uma espécie de sinergia (força conjunta, cooperação, parceria, colaboração) entre o Espírito Santo e a Igreja. Nesta ação conjunta o Espírito cria condições em nós para participarmos do mistério celebrado; recorda e manifesta o mistério de Cristo, que é atuado na ação litúrgica; transforma-nos, tornando real em nós a Páscoa de Cristo; e nos congrega na comunhão de um só corpo eclesial (Cf. Catecismo da Igreja Católica 1093-1109).

Porém, o Espírito Santo não pode agir sem nossa abertura, acolhimento, adesão, resposta de fé e compromisso. Ele espera um ‘sim’ de colaboração, como o de Maria, para que a liturgia possa ser celebrada, vivida e encontre sua eficácia. Nas palavras do primeiro documento do Concílio Vaticano II – Sacrosanctum Concilium – é preciso participar ativa, consciente, plena e frutuosamente da ação litúrgica (SC 11, 21, 30…), pois somos todos celebrantes, sujeitos da celebração (cf. AVLB 54). Por isso, alerta-nos o mesmo Concílio: “É necessário que os fiéis se aproximem da Sagrada Liturgia com disposições de reta intenção, sintonizem a sua alma com as palavras e cooperem com a graça do alto, a fim de que não a recebam em vão” (SC 11).

Concluindo, percebemos que uma verdadeira espiritualidade cristã realiza esta parceria com o Espírito em todos os momentos da vida, tendo como ponto alto e fonte a liturgia, expressão maior da sinergia, ação conjunta do Espírito Santo e da Igreja.

 

 

 

 

 

 

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