O fanatismo
Neste ano em função do distanciamento social pouco se ouviu falar em Festas Juninas. A liturgia católica, neste final de semana, nos apresenta duas belas figuras e testemunhas importantes para o cristianismo: Pedro e Paulo. Hoje, faço minha a reflexão de um colega Paulo, arcebispo de Uberaba.
“Uma forma paranoica, com base religiosa ou política, como algumas pessoas agem, pode ser identificada como fanatismo. Há aí marcas psicológicas excessivas, irracionais e persistentes, como apaixonada adesão a uma causa, que pode chegar até ao delírio. Está muito claro que nessas atitudes extremas existe demonstração de desequilíbrios e situações preocupantes para a ordem social.
Na Igreja é celebrada a Festa de São Pedro e São Paulo. Pedro era um pescador, homem simples e trabalhador, mas Paulo era um religioso fanático, defensor da tradição dos antigos e louco para assassinar os seguidores de Jesus Cristo. Para ele a doutrina cristã era uma afronta aos princípios do Império. Nele entendemos que o fanatismo provoca a morte e nunca ajuda na ordem pública.
O Brasil está passando por alguns fanatismos perigosos, deixando a população inconformada, cheia de interrogações e com o perigo de explosão incontrolável. Já basta a situação do Covid-19, o transtorno causado e a insegurança da grande maioria das pessoas. A perda de controle das instituições governamentais e dos poderes da República está colocando em risco a democracia e todo o país.
O apóstolo Paulo, de uma postura totalmente fanática contra os cristãos, transformou-se em um dos grandes defensores da doutrina cristã. Ele passou por um processo exigente de conversão e conseguiu entender que a realidade da vida era outra. Esse processo não lhe foi fácil porque exigiu dele grandes renúncias para fazer uma aventura de amor e de seguimento de Jesus Cristo.
Infelizmente, ou felizmente, o mundo passa por uma grande reviravolta no seu itinerário. É quase impossível acreditar num futuro promissor com tanta degradação da natureza. O pior é saber que o tipo de desenvolvimento se torna ameaçador, porque não coloca como alvo principal a dignidade da pessoa humana. Há até quem usa da morte de pessoas para aumentar sua capacidade econômica.
Qualquer instituição humana, para ter estabilidade, depende de bases bem construídas e sólidas. Pedro e Paulo são referências fundantes da Igreja, e nela as pessoas podem e fazem a experiência profunda de Deus, seguindo as orientações que vêm de sua Palavra. A Carta Constitucional brasileira é a base da democracia. Ela deve ser respeitada para dar condição de ordem e progresso proclamados”.
Para refletir:
O que mais chama minha atenção na vida Paulo? Consigo perceber a mudança radical em sua vida? O que a conversão de Saulo me ensina? Quais são os efeitos negativos e prejudiciais sobre mim e sobre os outros que provoca o fanatismo?
Textos bíblicos: At 12, 1-11; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16, 13-19; Sl 33(34).
Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório