O impacto do encontro com o Ressuscitado
Celebrar a Páscoa a cada ano, em todos os tempos, inegavelmente conduz a uma nova experiência para quem busca o Ressuscitado. Entre os personagens bíblicos, a primeira a experimentar foi Madalena, junto com outras mulheres anônimas que vão bem cedo ao túmulo de Jesus. Depois Pedro, João, os discípulos de Emaús, a comunidade dos discípulos, Tomé, Paulo de Tarso e outros mais vão se somando aos que fazem a experiência do encontro com o Senhor Ressuscitado. Dois mil anos depois estamos nós a ampliar esta lista de privilegiados, que estão na sequência da comunidade primitiva.
Diante do encontro com o Crucificado Ressuscitado as experiências normalmente são diferentes. As motivações para o encontro também são diferentes. As mulheres que estavam cheias de medo e chorando. Feita a experiência, elas se levantam e saem correndo com alegria, superando o medo (cf. Mt 28,8; Mc 16,8).
O evangelista Lucas nos apresenta um detalhe muito importante sobre as mulheres. Elas foram questionadas pelos anjos: “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se de como ele falou, quando ainda estava na Galileia: ‘O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado, e ressuscitar no terceiro dia’” (Lc 24,5-7). Então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus. Elas mudam a direção de suas vidas: do túmulo para a comunidade e anunciaram tudo isso aos Onze, bem como a todos os outros.
Os discípulos de Emaús reagem de forma surpreendente, mudam radicalmente a direção de suas vidas, antes se afastando do núcleo da comunidade, agora voltam, enfrentando os perigos da noite, para o centro da comunidade de Jesus. A mudança pela qual eles passam, a partir desse encontro com o Ressuscitado é profunda. Eles estavam decepcionados, abatidos, tristes, frustrados, como que cegos, e se afastavam e agora retornam a Jerusalém (cf. Lc 24,11-15).
Igualmente significativa foi a experiência vivida pelo apóstolo Tomé; antes do encontro com Jesus Ressuscitado, ele era um homem isolado, fora da comunidade, desconfiado, negacionista e descrente em relação ao testemunho da comunidade. Depois do encontro pessoal com Jesus Ressuscitado a sua mudança de atitude foi radical, confessa a sua fragilidade faz uma bela e profunda profissão de fé (cf. Jo 20,24-29).
Outro aspecto importante narrado pelo evangelista Mateus foi a reação dos guardas, que pareciam seguros, corajosos e inabaláveis. Com a aparição dos anjos eles tremeram de medo, e ficaram como mortos, paralisados (cf. Mt 28,4).
Temos também o testemunho da comunidade dos apóstolos, que estavam fechados e cheios de medo dos judeus (cf. Lc 24,36-42), mas após o encontro com Jesus Ressuscitado tudo mudou. Mais uma vez a comunidade é a principal referência para o encontro com o Ressuscitado.
A comunidade com seu testemunho é por excelência o local privilegiado para o encontro com Jesus. Sem ter Jesus Ressuscitado como referência existencial os personagens andam de costas para a comunidade, quando fazem a experiência de fé, a direção munda. Fica-nos a pergunta: em nossa vida, em que direção estamos caminhando?
Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana