O poder da palavra
Vivemos em um contexto cultural onde a liberdade de expressão é defendida como um direito fundamental do ser humano. De fato, poder se exprimir na liberdade de pensamento é, sem dúvida, algo fabuloso, mas supõe discernimento e responsabilidade pessoal, pois aquilo que se diz pode afetar positivamente ou negativamente a vida de outros. E um bom discernimento supõe também uma boa educação.
Não precisamos fazer muito esforço para percebermos o quanto discursos de algumas lideranças, sobretudo religiosas e políticas têm influenciado pessoas em nosso tempo. Conforme o conteúdo dos discursos e a forma com a qual são feitos, os impactos são profundos e vão gerando ou fortalecendo comportamentos diversos em muitos. Quando a pessoa tem um conhecimento fundamentado numa sã antropologia cristã e filosófica certamente saberá fazer juízos e formulará ideias em vista da construção de um mundo melhor onde todas as pessoas tenham uma vida mais digna. Mas se um líder “falar coisas aos ventos” sem discernimento adequado poderá favorecer o contrário. Poderá com suas palavras fomentar o ódio, a violência, a indiferença para com os mais necessitados, enfim o desrespeito para com a vida humana e também a vida do planeta.
O fato é que todos nós somos corresponsáveis para que o mundo seja melhor. Vale se perguntar o que queremos com aquilo que expressamos por meio das palavras ditas no cotidiano. Assim, se desejamos de fato que situações como desigualdade social, ganância, preconceito, discriminação, racismo, indiferentismo, individualismo, violência e todo tipo de guerra, bem como a perda de sentido da vida, deem espaço para um mundo melhor, mais humano, solidário e justo, onde as pessoas sejam respeitadas em seus direitos de uma vida digna e a paz possa predominar em nosso meio, precisamos cuidar bem do que falamos e como falamos. Conhecemos bem a expressão: “quem semeia vento, colherá tempestade” e, certamente, quem semeia coisas boas, bons frutos colherá.
Até o que lemos na Sagrada Escritura se não soubermos interpretar à luz de Cristo, que veio ao mundo para salvar e não condenar (cf. Jo 3,17), poderia sofrer interpretações fundamentalistas que não favoreçam a vida digna e plena para todos, pois Cristo veio também “para que todos tenham vida e tenham em abundância” (Jo 10, 10).
Assim, que o amor a Cristo que deu a vida pela salvação da humanidade leve todos a viver a vida com responsabilidade e saber se comunicar seja na família ou na sociedade em vista do bem de todos e da restauração do meio ambiente que é nossa Casa Comum.
Dom Aparecido Donizeti de Souza – Bispo Auxiliar de Porto Alegre