O Senhor virá
Estamos iniciando o Tempo do Advento. Este Tempo santo nos fala da vinda de Jesus Cristo. Por ela suspiraram, ao longo de muitos séculos, os patriarcas e os profetas, como podemos ler na Sagrada Escritura.
O Advento nos coloca na expectativa das três “vindas de Cristo”: a vinda histórica acontecida em Belém, há 2022 anos; a vinda no final dos tempos quando vier para julgar os vivos e os mortos; e a vinda mística, que acontece a cada dia, nos apelos de Deus para sermos melhores cristãos e na capacidade de reconhecê-lo em cada irmão que de nós se aproxima. A primeira parte do Advento fixa-se na preparação desta segunda vinda, a vinda do Senhor no final dos tempos.
Estamos vivendo hoje um tempo cheio de dificuldades, de um grande inconformismo na nossa vida social, por causa das dificuldades sociais e econômicas. As últimas eleições revelaram um país dividido politicamente, com visões políticas antagônicas e com soluções apresentadas para resolver as dificuldades do país totalmente opostas. Da mesma forma, o mundo todo está dividido em blocos ideológicos contrastantes e em oposição. O interessante é que, o que de certa forma une todos estes blocos contrastantes é a negação de Deus e de sua Lei de amor. Tempos difíceis estamos vivendo.
A 1a Leitura deste Domingo (Isaías 2,1-5) nos apresenta a realidade profética de um mundo diferente, um mundo de convergência no qual cada povo transformará “suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate.” Isto porque todas as nações da terra acorrerão ao encontro do Senhor. É a promessa da unidade de toda a humanidade em torno da obediência a Deus.
A 2a Leitura (Romanos 13,11-14) fala-nos da proximidade da salvação. São Paulo nos alerta para sairmos da letargia espiritual que nos faz perder o foco, nos torna pessoas preguiçosas em relação à fé. O dia de hoje é o dia de acolher a salvação que Jesus nos traz. Para o cristão, de certa forma, cada dia é dia de Advento: dia de acolher o Cristo que já veio uma vez, em Belém, virá uma segunda vez no final da história humana e vem ao nosso encontro a cada dia de nossa vida. É preciso que estejamos atentos para recebê-lo.
No Evangelho (Mateus 24,37-44) Jesus nos alerta para a necessidade de estarmos sempre atentos à sua Palavra. Esta escuta deve nos levar a um inconformismo e anima-nos a cultivar o sadio descontentamento, que reavive nossa esperança e nos leve a uma luta espiritual mais intensa. No entanto, é preciso estarmos alertas. O tempo do Advento nos alerta contra alguns riscos, muito fortemente presentes em nosso mundo:
- O risco de confiar em falsas esperanças, especialmente as que são o resultado de uma visão materialista da vida que busca tão somente a saciedade dos sentidos;
- O risco do conformismo fatalista, com a visão achatada em um puro humanismo: é melhor cruzar os braços e acreditar que não podemos ser diferentes nem melhores, assim como o mundo;
- O risco da mediocridade, fruto de uma vida cristã tíbia, sem esperança. Os que adotam esta mentalidade não querem cometer grandes pecados, mas também não querem praticar grandes virtudes.
Queridos irmãos, 1uais são as nossas esperanças a conquistar neste Natal?
Não deixemos de pedir a Deus a graça de, neste Advento, alimentarmos o desejo de melhorar a nossa vida de comunhão com Deus e com os irmãos. Para fomentar este desejo, a Igreja proclama as leituras e aponta-nos os desejos dos Patriarcas e Profetas que desejaram e suspiraram muitos séculos pela vinda do Redentor.
Aproveitemos este tempo santo para a renovação de nossa vida. Organizemos em nossa família e com famílias amigas os grupos de preparação para o Santo Natal.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen