O trabalho humano

“Quem é o ser humano?” pergunta o salmista (Salmo 8,5) depois de constatar a grandeza e a pequenez dele no infinito universo. A pergunta acompanha a história da humanidade e respostas foram sendo dadas, entre elas recordamos: é um ser racional, um animal simbólico, é aquele que ri, é um nada, é uma criatura divina, é corpo, espírito e alma, um ser material e espiritual, é aquele que trabalha, sabe fabricar objetos (homo faber). As ciências se multiplicaram e ajudam a encontrar mais respostas.

Pela riqueza e variedade das respostas fica evidente a grandeza a complexidade do ser humano e, simultaneamente, a sua pequenez e fragilidade. Toda abordagem reducionista é incompleta, por isso o desafio é considerar o ser humano integralmente. O Dia do Trabalho, celebrado em 1º de maio, faz refletir sobre o trabalho humano.

A pandemia do coronavírus colocou em evidência o trabalho e também a falta dele. Para falar dele é preciso falar de quem trabalha. O trabalho está ‘em função do homem’ e não o homem ‘em função do trabalho’. A dignidade do trabalho está no homem que o realiza, e não no produto resultante. Todo trabalho é um ato de criação. Ao mesmo tempo, o homem, através no trabalho, realiza-se a si mesmo como pessoa humana, possibilita o sustento da família, colabora na construção da sociedade e tem condições para auxiliar os necessitados.

A experiência mais dura e sofrida, por milhões de pessoas pelo mundo afora em 2020, por ocasião do Dia do Trabalho, é estarem sem trabalho. As medidas sanitárias de distanciamento social e diminuição do ritmo econômico, mesmo que duras, foram e são necessárias para evitar um sofrimento ainda maior e irreversível. É a hora de reforçar a solidariedade com quem está sem sua fonte de sustento, sem poder exercer seu espírito criador.

O coronavírus gerou também uma crise econômica. Certamente para sair dela é preciso “assumir com realismo, confiança e esperança as novas responsabilidades a que chama o cenário de um mundo que tem necessidade de uma renovação cultural profunda e da redescoberta de valores fundamentais para construir sobre eles um futuro melhor. (…) Assim, a crise torna-se ocasião de discernimento e elaboração de nova planificação” (n. 21). É preciso recordar que “para renovar os sistemas econômicos e sociais do mundo, que o primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade: com efeito, o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida econômico-social” (n. 25) Estas palavras foram escritas pelo Papa Bento XVI, na carta Encíclica “A Caridade na Verdade”, em 2009, na época da crise econômica de 2008 e servem de luz para o presente.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo