Os caminhos para a Igreja
No final do segundo milênio, há mais de duas décadas, o teólogo brasileiro Clodovis Boff escreveu um artigo, que foi publicado como uma pequena obra, onde ele falava como a Igreja deveria ser para o terceiro milênio. No presente artigo, quero retomar porque, segundo meu ponto de vista, são caminhos muito atuais para a Igreja, até porque estamos vivendo o terceiro milênio.
- IGREJA ESPIRITUAL: neste ponto, o autor ressalta a ideia de uma Igreja “mística”. Se a Igreja quer responder, em primeiro lugar, à sua vocação mais íntima; se ela quer responder eficazmente ao mundo de hoje, ela terá de redescobrir sua identidade mais profunda, que é a de ser “mistério”.
A presença da Igreja no mundo, sobretudo, sua grandeza social, não sofrerá, pelo fato dela presar pelo espiritual, pela sua mística, pelo contrário, será fortalecida. Quanto mais a Igreja for pneumática, contemplativa e mistagógica, mais força ela terá na sua vida e missão.
- IGREJA QUERIGMÁTICA: uma Igreja anunciadora, missionária. Em tempos de vazio, de uma certa “miséria existencial”, encontramos espaço para exercermos a nossa vocação de anunciadores e propagadores do Reino. A dimensão querigmática fundá-se sobre a dimensão da mística.
A irradiação querigmática da Igreja está profundamente ligada a experiência espiritual. Portanto, a fonte da missão é interna. Se não brotar de uma profunda experiência de Deus, não existe anúncio evangélico e evangelizador, mas apenas proselitismo religioso.
- IGREJA HOSPITALEIRA: uma Igreja de diálogo, que seja acolhedora de todas as diferenças. Uma Igreja includente, que evita toda forma de exclusão. Uma Igreja que seja verdadeiramente “mãe”, que acolha em seu regaço toda a diversidade que a vida traz. Uma casa em que todos possam “se sentir em casa”. A Igreja deve ser espaço favorável de tolerância, de convivência, de intercâmbio e de comunhão.
- IGREJA DA MISERICÓRDIA: aqui podemos falar também em compaixão, ternura e piedade. A Igreja deve ser “escola de compaixão”. Em hebraico misericórdia, rahamim, vem de rehem = entranhas. Ser Igreja misericordiosa significa, portanto, ter um amor “entranhado”, o amor de mãe. E no latim misericórdia contém a palavra coração = cordis. O que nos leva a sermos mais coração e menos razão. Mais sensíveis, mais próximos.
- IGREJA DA ESPERANÇA: esperança é uma das virtudes teologais. E quando se fala em esperança, se quer significar o dinamismo por excelência da Igreja, sua capacidade de sonho e de utopia. A Igreja não é só Igreja da fé e da caridade. É também a Igreja da esperança.
Estamos no ano Jubilar da Esperança, com o lema peregrinos de esperança. Portanto, temos a grande oportunidade para que, fortalecendo em nós a virtude da esperança, tornemos sempre mais a Igreja da esperança.
Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé